terça-feira, 1 de janeiro de 2013

MATTHEW ROSSER: CIENTISTAS DESCOBREM GENES QUE CAUSAM ENDOMETRIOSE!!

Na primeira postagem do ano, quero agradecer outra parceria muito importante em 2012 do A Endometriose e Eu: com o cientista inglês Matthew Rosser. Na correria da última postagem de 2012, a da retrospectiva, acabei esquecendo-me de agradecer a Matthew nossa grande parceria, já que o blog traduz seus artigos com exclusividade no Brasil. Quando perguntei a ele quais de seus artigos seria interessante para vocês neste início de ano, ele sugeriu-me este que fala sobre a pesquisa de alguns genes de mulheres com endo. Na verdade faz tempo que quero traduzir alguns deles, mas nunca achei nenhum deles completo. Sempre li títulos como: “Cientistas descobrem novos genes de quem tem endometriose” ou “Mulheres com ascendência europeia e asiática tem mais probabilidade de ter endometriose”, mas quando ia ler para saber qual gene, a decepção, não tinha o nome deles. Este último, sobre as mulheres que descendem de europeus (como o meu caso, que tenho ascendência europeia de pai e mãe), era o que eu já queria ter abordado aqui faz tempo. Por isso, achei fantástica esta sugestão de Matthew. Assim como eu, ele também achava que os artigos sobre os genes estavam incompletos, e, como sua formação é em genética, ele explica muito bem sobre isso e dá nomes a alguns deles. Minha decepção foi saber que a endo ainda será chamada de enigmática por alguns anos.  


Mesmo a endometriose sendo a doença ginecológica mais estudada dos últimos 10 anos, eu pensei que a geração de nossas filhas poderiam ficar livre desta terrível doença. Mas estou sentindo que não! Enquanto isso, milhares de pessoas continuarão se aproveitando de nossas dores para se enriquecer. Isso é uma tristeza, mas no fundo eu morro de pena destes seres que persistem em nãos serem honestos e humanos. Bom, ainda bem que alguém está vendo tudo. Já que aqui na Terra muitas coisas passam despercebidas aos nossos olhos, aos olhos de Deus isso não acontece. Ele tem os olhos tão, mas tão grandes que são capazes de enxergarem tudo e em qualquer lugar do planeta e tudo ao mesmo tempo. Deus tem os olhos mais do que biônicos. E isso me dá certo alívio, mas muitas mulheres sofrem muito porque são enganadas e outras ainda irão sofrer muito. Além das dores, muitas perderam tudo o que tinham (falo em bens materiais, em bens que demoraram a vida toda para construir e que na esperança de uma melhora e ou possível cura venderam tudo para pagarem consultas e cirurgias absurdas de caras) e vivem numa verdadeira miséria e muitas passarão a viver desta maneira. Enquanto isso sigo com meu trabalho social com o blog. Espero que a presidente, Dilma Rousseff (eu me recuso em colocá-la como presidentA, uma vez que ela não reconhece e nem conhece a pior doença que atinge as mulheres, a endometriose e, consequentemente, ela ignora cerca de 10 a 15 milhões de mulheres no país, muitas, inclusive, que foram as responsáveis por coloca-la no poder). Por isso, o diagnóstico precoce continua sendo nossa grande aliada. Segue a tradução de mais um artigo de Matthew Rosser. Beijos com carinho!!

Recentemente, li muitos artigos e a maioria das notícias eram títulos "novos genes ligados à endometriose"  ou algo nesse sentido. Como a minha formação é em genética humana eu estava interessado em olhar-se o estudo no centro desses relatórios. Este estudo em particular (estudo original) observou alguns genes que podem estar relacionados com endometriose em mulheres de ascendência japonesa e europeia. Este estudo foi bastante grande com 4.604 mulheres com endometriose e 9.393 em controle, um número muito maior do que qualquer outra investigação até hoje. Muitos estudos sobre a genética da endometriose foram feitos no passado, a maioria com resultados um pouco decepcionantes. Isto se deve ao fato de que ainda não foi encontrada nenhuma uma ligação genética para a endometriose, que é uma doença comum entre as mulheres de todas as raças. Mas, antes de ir mais longe sobre as pesquisas e seus resultados, faço minhas considerações sobre alguns dos princípios básicos sobre por que a genética é importante e, por isso, cientistas estão se preocupando tanto em relacionar os genes com a endometriose.


Deixe-me perguntar uma coisa: quando um item em sua casa (geladeira, fogão, por exemplo) não está funcionando direito, qual é a primeira coisa que você faz? Se sua resposta é "comprar um novo" parabéns, você tem mais dinheiro do que eu. Mas nós, os que temos menos dinheiro, não iremos comprar um novo, mas sim iremos olhar o manual de instruções para tentar descobrir o que está errado. O corpo humano é semelhante. Nós também temos um manual de instruções que é chamado de DNA. 

Moléculas de DNA
O DNA é uma longa hélice e é a substância encontrada nas células do nosso corpo. Mas o DNA não está escrito como um alfabeto normal, mas sim num alfabeto composto de apenas quatro letras (A, T, C e G) que formam palavras, alguns milhares de longas cartas, a que nos referimos como "genes". Cada gene codifica para fazer uma determinada proteína e há dezenas de milhares de genes em seu DNA, cada um com seu manual de instruções que fazem quase cem mil proteínas. Isso é tudo lindo e perfeito, mas quando uma célula se divide ela tem que copiar cada letra do manual de instruções (o DNA), todas as mais de 3 bilhões de letras e suas células dividem-se em muitas antes mesmo de cada um de nós nascermos. Assim, os erros começam a aparecer em seu DNA. A maioria “desses erros” é inofensiva, às vezes eles são prejudiciais (o que chamamos de “mutações”). Se estas mutações ocorrem em um gene (ou o número de genes), ele pode corromper a forma do resultado da proteína (as funções de genes), fazendo com que as células passem a se comportar de maneira estranha e ou perigosa, levando a que nós conhecemos como uma doença. Assim, quando uma doença ocorre em um grupo de pessoas, podemos estudar o DNA deste grupo para ver quais mutações comuns eles compartilham.


E é isto que o referido estudo observou: mutações comuns no DNA das mulheres com endometriose descendentes de europeus e japoneses. Isso nos permite a entender como e por que a endometriose surge em algumas mulheres e como ela é passada de geração em geração. A mutação surge em diferentes tipos e particularidades. Neste estudo foram observados os chamados polimorfismos de nucleotídeo do DNA, representado pela sigla SNPs. Este tipo de mutação é quando apenas uma única letra de seu DNA é alterada e, embora você achasse que mudar apenas uma, das 3 bilhões de letras não faria a diferença, ela poderá ter profundas implicações. De qualquer forma, este último estudo descobriu várias dessas "SNPs" que eram comuns entre as mulheres com endometriose. Infelizmente, todos eles têm nomes terríveis e nada memoráveis, como “rs12700667”, “rs7521902”, “rs13394619” e "rs10859871", mas quem se importa com isso. Agora QUE eles encontraram estas mutações, podemos começar a obter uma melhor compreensão da doença, levando a melhor diagnósticos e tratamentos corretos? Bem, sim e não.


Um dos problemas é que, ao contrário de algumas doenças que são causadas pela mutação de um único gene, a endometriose está relacionada com mutações em vários e diferentes genes (o que chamamos de poligênica). Agora, olhando a figura abaixo, cada gene que adicionamos a mais na imagem, mais complicado se torna, porque você tem de levar em conta a função de cada um deles no contexto mais amplo da doença. Esta informação irá eventualmente oferecer-nos algumas grandes ideias em como funciona a endometriose, mas descobrir todas as conexões pode levar algum tempo. 
Acima, por exemplo, é a rede de interação para um único gene - pesquisa Wikipedia Matthew Rosser
A outra questão é: os genes não são a única coisa que formam o DNA. Longe disso. Eles representam apenas cerca de 2% de nosso DNA, e o resto? Durante muito tempo pensou-se que o DNA não tivesse genes, que era apenas "lixo" e não tinha função.  No entanto, recentemente, descobriram que o DNA chamado de "lixo" tem inúmeras e importantes “coisas” escondidas nele. Algumas delas, é que ele funciona basicamente como "interruptores" para os genes, controlando se algum deles está ligado ou desligado dentro de uma determinada célula. Portanto, ele não serve apenas para dizer a função de um gene, mas é o responsável por seu regulamento também. Neste último estudo, várias das mutações identificadas não estavam nos genes em si, elas foram encontradas no DNA torno dele. Isso, infelizmente, complica mais o assunto porque agora nós temos que descobrir quais as implicações que isso tem na regulação dos genes bem como suas funções. Então, onde os cientistas estão até o momento? O diagrama abaixo mostra onde estamos e até onde temos de ir antes que tenhamos uma compreensão completa da endometriose. (estamos onde está escrito em vermelho 'we are here' 'nós estamos aqui')




Apesar de estarmos longe de compreender a endometriose em sua totalidade, estudos como este abriu uma porta e apontou um caminho para nós. Vai levar muito mais tempo e precisaremos de muitos esforços nesta jornada.

Texto original em inglês:


I recently read, with great interest, several stories (also here) about a new study into the genetics of endometriosis published by an international research effort based in Australia (better summary here). Most of the news items centred around a headline involving an announcement like ‘new genes linked to endometriosis’, or something along those lines. As my background is in human genetics I was keen on looking up the study at the centre of these reports. This particular study (link to abstracthere) was looking at what gene/s may be related to endometriosis in women of Japanese and European ancestry. This was quite a large study as well, including 4,604 women with endometriosis and 9,393 controls, a far greater number of any other such investigation. 

Lots of studies on the genetics of endometriosis have been done in the past, mostly with slightly disappointing results. This is mainly because we haven’t yet been able to find a genetic link to endometriosis that is common amongst all women of all races.

But before we go any further into that study, or its results, I think I should go over some of the basics about why genetics is important and why we should bother looking for endometriosis related genes.

Let me ask you something, when an item in your house (Like a fridge, cooker or energy dispersive x-ray diffracter, for example) malfunctions what is the first thing you do? If your answer is “buy a new one” congratulations, you have more money than me. But we less monetarily endowed people tend to look at the instruction manual to try and figure out what’s gone wrong. The human body is similar in that way, because we too, have an instruction manual and that manual is called our DNA. 

This stuff - Image courtesy of Freedigitalphotos.net

 DNA is a long, twirly, helix like substance found in nearly every cell in your entire body, it’s the set of instruction that made you. But DNA isn’t written in any normal alphabet, no the DNA alphabet is written in an alphabet consisting of only four letters (A,T,G and C) which make up words, some thousands of letters long,  which we refer to as ‘genes’. Each gene codes for making a certain protein and there are tens of thousands of genes in your DNA instruction manual making almost one hundred thousand proteins.

That’s all fine and dandy, but when a cell divides it has to copy every single letter of the DNA manual, all 3 billion letters, and your cells have divided many, many times before you are even born. So, despite some astonishing cellular proofreading, errors start to creep into your DNA; most are harmless, rarely they are beneficial, sometimes they are harmful (we call these errors ‘mutations’). If these mutations occur in a gene (or number of genes), it can corrupt the way the protein product of that gene functions, hence causing cells to behave in odd/dangerous ways leading to, what we know as, a disease. So when a disease occurs in a group of people, we can look at their collective DNA to see if they share any common mutations.

This is what the aforementioned study was looking at: common mutations in DNA amongst women with endometriosis of European and Japanese descent; this would hopefully allow us to begin picking apart how and why endometriosis arises in some women and how it is passed on through generations. Mutation comes in different types though and the particular mutations this latest study was looking for were called SNPs (which stands for Single Nucleotide Polymorphism, not Scottish Nationalist Party, for all our Caledonian readers). This type of mutation is when only a single letter of your DNA is changed and, though you wouldn’t think changing one letter out of 3 billion would make a difference, it can have wide reaching implications.

Anyway this latest study found several of these ‘SNPs’ that were common amongst women with endometriosis. Unfortunately they all have terribly unmemorable names, such as ‘rs12700667’, ‘rs7521902’, ‘rs13394619’ and ‘rs10859871’, but who cares because now they’ve found these mutations, we can start getting a better understanding of endo leading to better diagnostics and treatments right? Well, yes and no.

One of the troubles is that, unlike some diseases which are caused by a mutation in a single gene, endometriosis is related to mutations in lots of different genes (what we call, polygenic). Now the more genes you add to the picture the more complicated it becomes because you have to take into account the function of each gene in the wider context of the disease. This information will eventually offer us some great insights into how endometriosis works, but figuring out all the connections may take some time. 

This, for example, is the interaction network for just ONE gene: Source - Wikipedia

There’s another issue as well, genes aren’t the only thing DNA is made of - far from it.  You see, genes make up only around 2% of your DNA, so what is the rest of it there for? For a long time it was thought the DNA that didn’t have genes was just ‘junk’, it had not function, a remnant of our evolutionary past and graveyard of ‘dead’ genes.  However, recently we have come to understand that this ‘junk’ DNA has a lot of other, very important, things lurking in it. Some of these things act as ‘switches’ for genes, basically controlling whether a gene is on or off inside a certain cell. So it’s not just about the function of a gene, but the regulation of it as well.

In this latest study, several of the mutations they identified weren’t in genes at all, but were instead found in DNA around them, which unfortunately complicates the matter further because now we have to figure out what implications this has on gene regulation as well as function.

So, where are we at the moment? The diagram below shows where we are and how far we have to go before we have a complete understanding of endometriosis. 

Simple as that!

Although we are far from understanding endometriosis in its entirety, studies such as this latest one have opened the door and pointed the way forward for us. It’s going to take more time and a lot more effort, but then, nothing worth doing was ever easy.

Nenhum comentário:

Postar um comentário