quinta-feira, 30 de outubro de 2014

MAIS UMA ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A NEUROCIENTISTA E ATIVISTA INGLESA LIBBY HOPTON!

Libby Hopton e Caroline Salazar em São Paulo


A Endometriose e Eu apresenta mais uma entrevista exclusiva com a neurocientista Libby Hopton, que a conheci durante a  1ªJornada Internacional de Anatomia e Tratamento Cirúrgico para Endometriose, em São Paulo. Por ter formação como neurocientista, Libby começou a pesquisar e a estudar sobre a doença, após ser diagnosticada, por encontrar a muitas informações errôneas. Seu objetivo, assim como o nosso (de toda equipe do blog), é passar o conhecimento correto às endomulheres Foi muito bom tê-la conhecido e saber que há pessoas que pensam como nós. Não podemos aceitar que ainda exista médicos que falam que a dor é psicológica, não podemos aceitar que ainda haja especialista que falem que a "endometriose é a doença da mulher moderna", não podemos aceitar que médicos culpem as mulheres pelo retorno da doença. Precisamos ser mais ativas e não aceitar os "rótulos" que colocam em nós, portadoras de endometriose. Você sabia que a endo pode ser encontrada em fetos na mesma proporção e nos mesmos locais que nas mulheres adultas? Por isso, o A Endometriose e Eu, além de ser o blog mais completo da doença idealizado por uma endomulher no mundo, é o único que traz entrevistas exclusivas internacionais, com informações corretas e de qualidade, o que faz parte da conduta profissional de sua idealizadora promovendo a correta abordagem da endometriose e o jornalismo sério e ético. Foi muito bom ter passado também algumas horas de lazer com Libby em sua primeira visita ao Brasil. Espero revê-la em breve!! Leia também as entrevistas exclusivas com o doutor David Redwine e com o doutor Charles Koh. Agradeço ao doutor Alysson Zanatta pela ajuda na entrevista in loco. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

Entrevista exclusiva concedida à Caroline Salazar *proibida a reprodução sem autorização prévia da autora
Tradução: Alexandre Vaz

Caroline Salazar: Como você conheceu o doutor David Redwine e como isso ajudou a que você tomasse contato com outros médicos e pacientes?

Libby: Quando eu fui diagnosticada com endometriose eu queria entender a doença. Então, comecei a fazer pesquisas online e na literatura científica. Dei de cara com muita informação contraditória, opiniões opostas e quase todos os aspectos dessa doença, desde como ela surge na mulher até quais os tratamentos mais eficazes, e se a doença pode ou não ser curada. Um dos médicos que surgiu nas minhas pesquisas, e que evidenciou pela sua abordagem analítica à doença foi o doutor Redwine. Eu fiquei confortada quando descobri o trabalho dele porque eu conseguia entender a forma como ele pensava sobre a doença e ele colocava muitas questões que me perseguiam, e para as quais eu não tinha conseguido respostas. Algum tempo depois eu descobri que existe uma comunidade online muito ativa de portadoras e médicos nas redes sociais, tais como o Facebook e o Twitter. Eu entrei em um grupo no Facebook do qual o doutor Redwine já fazia parte como membro ativo e aproveitei a chance para debater com ele alguns dos meus pensamentos que tinham resultado das minhas leituras. Na época ele estava trabalhando no seu último livro: Googling Endometriosis: the lost centuries (Pesquisando a endometriose: os séculos perdidos), a história detalhada da endometriose, e vendo o meu interesse na doença ele me convidou para revisionar os primeiros capítulos do livro. Eu fiquei muito grata por poder me envolver de alguma forma, e no final acabei ajudando ele a editar o livro. Mais tarde, quando ele se aposentou da sua prática clínica, ajudei-o a montar seu site, e juntos fizemos uma pesquisa científica questionando sobre a existência de endometriose microscópica invisível. Depois criei o EndoMetropolis e consegui chegar junto a outros médicos e pacientes que estavam interessados em debater todos os assuntos em torno da endometriose. Para as pacientes foi uma forma de ficarem informadas sobre opções de tratamento e buscar as melhores soluções. Para os médicos foi uma forma de chegar junto das pacientes, partilhar a sua experiência e entrar em debates interessantes sobre a causa da doença e quais as melhores abordagens para tratamento.

Caroline Salazar: O que você fala para as pacientes que chegam até você, que estão com dor, mas que já escutaram que sua dor é normal e que está tudo em seu psicológico. Neste caso, me refiro às pacientes cujos exames de imagens sempre deram normais, e elas recebem como resposta que suas dores são psicológica?

Libby: Para começo eu aceito que a dor delas é real. Eu levo em conta o que elas me falam. Claro que não sabemos se a dor se deve à endometriose ou não, mas eu informo que a endometriose é a principal causa de dor pélvica, e que muitas mulheres que têm dor por conta da endometriose lutam para conseguir um diagnóstico e podem inicialmente ter a sua dor desvalorizada como sendo “psicológica”. É possível ter resultados de exames normais e ainda ser portadora da doença. Por exemplo: a imagem apenas poderá mostrar cistos ovarianos e em alguns casos, doença profunda, mas não pode confirmar se a paciente possui endometriose superficial. Por isso, um exame normal não exclui a doença. Eu também explico para elas qual a diferença entre um exame bimanual (nota da editora: exame de toque em que é feita palpação do útero, trompas e ovários) e um exame vaginal digital, em que apenas é examinada a área posterior do útero. Esses dois exames precisam ser realizados para perceber se a dor pélvica é uterina ou não. Se o médico apenas realizar o exame de toque, o desconforto ao toque e nódulos devido à endometriose podem passar despercebidos. Eu aconselho a paciente a continuar procurando diagnósticos corretos, e se elas acharem que não receberam a atenção devida, não desistam e busquem um médico que te escute, que pegue seu histórico médico detalhado, que faça os exames necessários e, se necessário, diagnóstico por laparoscopia. No grupo aceitamos a colocação de fotos e registros médicos para que os médicos do grupo possam dar suas opiniões – claro que isso não equivale ao aconselhamento médico realizado num consultório, mas serve como conhecimento complementar. Por vezes, as pacientes são submetidas a cirurgias e é lhes dito que não têm endometriose, quando na verdade são portadoras da doença. Ou a sua pelve simplesmente não foi examinada em detalhe para detectar anomalias nos tecidos. Nem todos os ginecologistas estão capacitados para reconhecer a doença em todas as formas que ela se apresenta, e, nesses casos, o diagnóstico pode ser errado. Em resumo, eu digo às pacientes que continuem a buscar respostas, e, se sentirem que não receberam os cuidados necessários do seu médico, não devem perder a esperança. A sua dor é real e você deve procurar outra opinião. Defenda sempre aquilo que você está sentindo e não permita que os outros te chamem de “louca” e não aceite que falem que suas dores são psicológicas – muitas, milhares de mulheres já escutaram isso, o que apenas faz demorar ainda mais o seu diagnóstico. Dor pélvica, embora seja um problema comum nas mulheres, não é um sintoma psicológico.

Caroline Salazar: Frequentemente vemos leigos e até especialistas afirmando que a endometriose é “a doença da mulher moderna”. Qual é a sua opinião sobre isso?

Libby: Bom, isso depende um bocado de como você define o conceito de mulher moderna.

Caroline Salazar: No contexto em que é falada, a expressão se refere à mulher que coloca a carreira antes da maternidade, que trabalham duro e atrasam a formar sua família.

Libby Existem, claro, mulheres de carreira com endometriose, mas também existem adolescentes com endometriose, mães com endometriose, mulheres que já entraram na menopausa com endometriose, e mulheres desde a antiguidade que, muito provavelmente, eram portadoras de endometriose, baseado nos registros dos seus sintomas e relatos clínicos. A endometriose pode afetar meninas e mulheres em qualquer fase de suas vidas, independente de etnia e origem socioeconômica. A visão de que essa doença está limitada a mulheres na casa dos 30 anos, ou na idade reprodutiva, que deram prioridade à carreira em vez da maternidade é tolice, e está dificultando o diagnóstico de pacientes e distorcendo a nossa visão e compreensão sobre essa doença. Eu acho que essa ideia errada muito provavelmente deriva da linha de pensamento em que a menstruação retrógrada causa endometriose, e, portanto, quanto mais fluxo menstrual a mulher tiver, maior a chance de ela desenvolver endometriose, além de ainda desenvolver mais focos... mas se observarmos os fatos em torno da doença, pacientes mais velhas não possuem mais focos nas suas pelves do que outras mais novas, e uma gravidez anterior ao diagnóstico não é um fator de proteção contra a endometriose. As teorias deveriam acomodar os fatos e não o contrário... se uma teoria não explica adequadamente os fatos sobre uma doença, então, ela não está certa, e precisa ser acertada para ajustar aos fatos, ou então, descartada por completo se uma teoria concorrente providencia uma melhor explicação.

Caroline Salazar: E o que você acha da culpa colocada nas portadoras?

Libby: Eu consigo entender porque os médicos ficam frustrados com essa doença. Essas pacientes frequentemente não respondem bem às terapias médicas. Ainda não existe terapia médica curativa. A cirurgia frequentemente é uma “questão de sorte”, porque a maioria dos cirurgiões simplesmente não têm tempo, treinamento e nem experiência suficientes para remover a doença totalmente, e se focos são deixados para trás, ou apenas forem parcialmente tratados, essa cirurgia está condenada ao fracasso. Cedo ou tarde a paciente irá voltar com os mesmos sintomas e a pergunta que surge é “e agora?” Com o tempo, após muitos tratamentos falhados, tanto o médico como a paciente acabam ficando frustrados e o médico pode sentir a tentação de culpar a paciente em vez de reconhecer que errou no tratamento do problema da sua paciente. Claro que essa doença e o padrão de tratamentos falhados não é culpa da portadora e culpá-la apenas serve para machucar ainda mais a mulher, deixando que ela se sinta isolada e sem esperança. Essa doença é uma lição de humildade para todos os que estão envolvidos. Obviamente, a abordagem mais aceita para os tratamentos precisa mudar. Os médicos precisam informar as pacientes que não as conseguem tratar cirurgicamente, e precisam existir mais meios para treinar médicos em cirurgia laparoscópica avançada, para que se possa oferecer a remoção completa da doença. Essa mudança não irá acontecer do dia para a noite, e necessita de maior compensação por essas cirurgias complexas, maior reconhecimento da especialização envolvida quando alguém se torna um especialista em excisão de endometriose. Com certeza não deveríamos culpar a paciente, mas a culpa também não fica apenas nas costas dos médicos. Os problemas que impedem as pacientes de receberem os cuidados adequados são em parte devidos a falhas estruturais institucionais, o papel das companhias de seguros (convênios médicos) que se negam a compensar adequadamente a cirurgia para endometriose, e a falta de investimento dos governos no que é uma doença debilitante muito comum que afeta milhões de mulheres.  Quanto às pacientes, nós precisamos nos manter ativas, exigindo melhores cuidados e também nos representarmos a nós mesmas se sentirmos que os médicos estão nos deixando na mão.

Caroline Salazar: Que idade você tinha quando foi diagnosticada com endometriose e qual a sua história pessoal?

Libby:­­ Eu tinha 26 anos quando recebi meu diagnóstico de endometriose. No meu caso, eu fui o fator mais influente no atraso do diagnóstico porque eu não busquei ajuda para os meus sintomas, e a doença apenas foi detectada quando eu fiz um exame de rotina com um ginecologista. O médico por acaso fez um ultrassom e detectou endometriomas grandes nos meus dois ovários e, imediatamente, suspeitou de endometriose. Eu cometi o erro de achar que a dor pélvica era algo bastante comum, normal. Então, ignorei esse sintoma e ia levando a minha vida. Afinal, minha mãe tinha tido os mesmos sintomas, nunca tinha recebido qualquer diagnóstico de doença e foi capaz de conceber filhos sem dificuldade. Eu, simplesmente, achava que a dor era normal. Somente após a remoção bem sucedida da doença, eu pude apreciar qual o impacto que esses sintomas tinham em mim durante todos esses anos, e como eu deveria ter agido acerca disso muito antes. Eu acabei tendo muita sorte já que a minha primeira cirurgia foi com um especialista em endometriose. Assim que surgiu a suspeita de endometriose, eu comecei a pesquisar sobre a doença e fui capaz de tomar decisões conscientes sobre o que seria a melhor opção para mim. Mais tarde precisei de nova cirurgia porque na primeira a doença não foi totalmente removida e desenvolvi várias aderências pós-operatórias. Hoje, um ano após a minha última cirurgia, eu continuo vivendo muito bem com 95% dos meus sintomas resolvidos. A moral dessa história é que embora a dor pélvica seja comum, não é normal e deve ser levada a sério. Se você tem dor pélvica, não a ignore. Existe ajuda e tratamento disponíveis. Um diagnóstico precoce junto com tratamento é a melhor opção, e se existir suspeita de endometriose, é muito importante encontrar um médico especializado no tratamento cirúrgico dessa doença.

Caroline SalazarEntão, quantos anos você sofreu com dor?

Libby: Desde os meus 13 ou 14 anos, o que significa 12 ou 13 anos de dor, embora, eu nunca tenha experimentado dor constantemente, e os sintomas tenham piorado um pouco ao longo dos anos. Com 14 anos eu me lembro que pensava para mim mesma: se essa dor não era simplesmente algo normal e parte da condição de ser mulher, seria considerada como uma doença terrível. Como eu era ingênua...

Caroline Salazar:  Qual o conselho que pode dar às meninas e mulheres com dor pélvica, mas cujas mães asseguram que essa dor é normal?

Libby: Dor pélvica é comum, mas isso não faz com que seja normal. Quando o corpo dói, está tentando comunicar algo importante para você – a dor é funcional ao alertar a paciente de que algo não está certo, e que precisa da sua atenção. Se está debilitada pela dor pélvica, se está interferindo com as suas atividades diárias e com a sua qualidade de vida, isso não é normal e deve buscar um médico que se interesse pelo seu caso, investigue a causa dessa dor e inicie um tratamento. Você não precisa viver desse jeito, e existe ajuda. Por isso, por favor leve os sintomas a sério e não permita que outros normalizem ou minimizem a importância da sua dor.

Caroline Salazar: O que está pesquisando atualmente?

LibbyEu trabalho como pesquisadora para o doutor Andrew Cook no Vital Health Institute em Los Gatos, na Califórnia. O doutor Cook é um especialista em excisão de endometriose e vêm monitorizando as suas pacientes faz mais de uma década. É nossa esperança reavaliar a escala pela qual a a doença é medida, e potencialmente desenvolver um novo sistema de avaliação não apenas baseado nas descobertas cirúrgicas, mas também incluindo informação pré-operativa das pacientes para ajudar a prever a complexidade cirúrgica e os resultados pós-operatórios. Ao aceder não apenas aos resultados das cirurgias, mas, também, a várias variáveis pré-operativas, é nossa esperança identificar e dimensionar os tratamentos em sub-grupos específicos de modo a melhorar os resultados a longo termo e a ajudar pacientes a aceder aos cuidados de saúde ótimos nas suas trajetórias de tratamento. É um projeto ambicioso, mas eu acho que algo assim poderá revolucionar o futuro dos tratamentos de endometriose.

Caroline Salazar: Como pesquisadora, você tem algum contato com as pacientes?


Libby: Acabei de me mudar da Holanda para a Califórnia. Agora, naturalmente, terei a chance de trabalhar mais próximo das pacientes quando faço as pesquisas. Obviamente, não sou médica, mas é importante que, se a pesquisa é para ser clinicamente relevante, a distância entre ciência, médicos e pacientes deve ser encurtada. Também é muito importante que as mulheres estejam atentas aos estudos que estão sendo feitos para que possam estar presentes, fomentando um sentimento de esperança e envolvimento na comunidade da endometriose como um todo, e ajudar a melhorar os resultados para as gerações futuras de mulheres, suas filhas e netas. Tendo a possibilidade de contribuir na pesquisa de alguma forma pode dar um sentimento de envolvimento e poder para pacientes que vêm sofrendo por muitos anos por conta dessa doença debilitante. 


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR HÉLIO SATO!!

"Com a Palavra, o Especialista" vai dar uma bela aula sobre a classificação de embriões, assunto de extrema importância para quem passa pela fertilização in vitro. O doutor Hélio Sato também aborda os possíveis exames a serem feitos para evitar as falhas de implantação. Muitas mulheres, infelizmente, fazem sucessivas tentativas de fertilização in vitro e/ ou de inseminação artificial, mas não obtém sucesso. É preciso investigar a fundo o porquê dessas falhas antes de novas tentativas. O doutor Hélio esteve presente no congresso mais importante do mundo em reprodução humana, o European Society of Human and Embryology (ESHRE), realizado em Munique na Alemanda, em junho e julho de 2014, e nos conta o que foi apresentado de novo para avaliar os embriões e, assim, ajudar ainda mais quem passa pela F.I.V. Nada é mais gratificante para um especialista em reprodução humana quando a mulher engravida logo na primeira tentativa, como no meu caso, algo raro, já que implantei apenas um único embrião prestes a completar 36 anos. Quando enviei meu Beta HCG a ele por email, não deu dois minutos toca o meu celular: "Parabéns, Carol, você está grávida!". Demorou para cair a ficha do doutor Hélio no decorrer da semana sobre meu milagre. E a minha também!! Exatamente hoje completo 18 semanas! Já estou escrevendo a segunda parte de minha história. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

- O que pode acontecer quando se tem embriões de qualidade A e não há implantação? Sendo que foi feito exames na mulher e tudo estava bem. Há exames específicos a serem feitos em relação a isso? Há também a possibilidade de rejeição do organismo feminino? Vanessa Silva, Vitória – ES

Doutor Hélio Sato:  Os embriões são classificados de acordo com o grau de fragmentação do citoplasma, ou seja, as células dos embriões ao se dividirem podem perder parte do citoplasma, formando vesículas e o grau de fragmentação varia de:

A – Sem fragmentação
B – Fragmentação discreta
C – Fragmentação moderada
D – Grande fragmentação

E, as evidências apontam que quanto maior for a fragmentação menor é a capacidade de implantação dos embriões. No entanto, algumas pesquisas não observaram esta relação. Conclui-se que a avaliação da fragmentação é uma forma rápida, simples e barata de avaliar os embriões, porém, ainda é muito falho.

Assim, existem diversas pesquisas que avaliaram outras formas não invasivas de avaliar os embriões a fim de poder prognosticar a taxa de implantação e poder selecionar os melhores e assim aumentar a taxa de sucesso do tratamento.

Dentre muitos, a avaliação full time dos fenômenos celulares conhecido como time lapse mostrou ser uma alternativa mais eficaz, porém, ainda assim, demanda mais avanços. O time lapse não é nada mais que uma câmera tipo “big brother” que acompanha tudo que acontece com os embriões no meio de cultura, ou seja, quando aconteceu a primeira divisão, a segunda, a terceira, etc... e como aconteceu. Porém, ainda é uma tecnologia não disponível na maioria dos centros de reprodução, pois, os custos do uso aumentariam ainda mais o valor do tratamento. Recentemente, no congresso europeu que ocorreu em Junho de 2014 (Munique, Alemanha) observamos equipamentos que acoplam o time lapse juntamente com as estufas que não necessitam serem abertas para avaliação dos embriões, porém, os valores ainda são muitos altos.

Outra alternativa que pode ser utilizada é avaliação da integridade cromossômica dos embriões pela técnica de CGH (Comparative genomic hybridization) e, para tanto, é necessário que os embriões alcancem o 5º dia de evolução no meio de cultura, então, são removidos algumas células para esta análise que consiste em comparar 2 cromossomos sendo 1 sabidamente normal e outro a ser testado e assim é avaliado se o número de cromossomos são normais, ou seja, 46, bem como se há partes em excesso ou falta. E, desta forma, são transferidos apenas os embriões com a parte genética íntegra. Essa técnica aumenta significantemente a taxa de implantação. Porém, cabe destacar que a técnica tem custo relativamente alto e, infelizmente, muitos embriões não alcançam o 5º dia de evolução no meio de cultura. Portanto, se nenhum embrião alcançar esta fase conhecida como blastocisto ou se nenhum embrião estiver geneticamente normal também não é feita a transferência. Com isso, o tratamento terá de ser reiniciado novamente.

Quanto às avaliações que podem justificar a falha de implantação, além da avaliação embrionária, são aqueles que visam avaliar o endométrio e o sistema imunológico-coagulação. O endométrio pode ser avaliado por diversas formas, dentre elas, a histeroscopia que busca identificar sinais de endometrite (inflamação do endométrio, a camada interna do útero onde tem de ocorrer a implantação do embrião) e, também, verifica a existência de pólipos endometriais e mioma uterino submucoso. Já a biópsia de endométrio avalia as células que estão no endométrio e suas características e, também, tem objetivo de avaliar a presença de endometrite (teste mais sensível que a histeroscopia) e constata se o endométrio se prepara adequadamente para a implantação.

A forma mais moderna, porém, com custo mais elevado utilizado em pacientes que tiveram falhas de implantação pregressas é o teste de expressão de RNA no endométrio conhecido como microarray. Embora, possa orientar o momento que deve ser feito a transferência seu custo limita o uso rotineiro.

Em relação às doenças autoimunes convém pesquisar as tireoidites (inflamação da tireoide) autoimunes, lúpus eritematoso sistêmico e outros. Outros exames, também, visam avaliar a tendência de trombose, conhecida como trombofilia. Diversas mutações genéticas favorecem a trombose vascular, as mais comuns são o fator V de Leiden, Mutação na protrombina (fator II), deficiência da anti-trombina III e outros. Diante de tantas opções de investigação, sugiro sempre rediscutir com o médico para que novas opções sejam consideradas tanto para investigação quanto para tratamento.

 - Há dois anos tive uma gravidez na trompa e essa trompa foi retirada devido a endometriose. Já passei por três vídeos e agora estou tomando clomid. Quais exames tenho de fazer para verificar a possibilidade de gravidez natural? Com uma trompa, eu consigo engravidar naturalmente ou teria de partir para reprodução assistida? Rosimeire, São Paulo - SP

Doutor Hélio Sato: Nesta situação o exame básico a ser feito é a histerossalpingografia, que verifica se sua única trompa está desobstruída. Dependendo do resultado, há possibilidade de gravidez natural. 

Sobre o doutor Hélio Sato:

Ginecologista e obstetra, Hélio Sato é especializado e endometriose, em laparoscopia e em reprodução humana. Tem graduação em Medicina, Residência Médica, Preceptoria, Mestrado e Doutorado em Ginecologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),  e foi corresponsável do Setor de Algia Pélvica e Endometriose da mesma instituição.

Hélio Sato tem certificado em Laparoscopia pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e de Obstetrícia. É membro da AAGL “American Society of Gynecology Laparoscopy” e é coordenador de pesquisas da clinica de reprodução humana GERA e está à frente nas seguintes linhas de pesquisas: endometriose, biologia celular e molecular, cultura celular, polimorfismo gênico e reprodução humana. (Acesse o currículo Lattes do doutor Hélio Sato). 

sábado, 18 de outubro de 2014

"A VIDA DE UMA ENDOMAMÃE": A VIDA QUATRO MESES APÓS O PARTO E A ENDOMETRIOSE DANDO AS CARAS!!

Imagem cedida por Free Digital Photos

Aos poucos nossa endomamãe vai voltando à ativa aqui no blog. Quatro meses após o nascimento de sua caçula, além de falar de Hadassa e dar alguns alertas às mamães, Tatiana nos fala de um possível retorno de sua endo. Isso quebra o mito de que a gravidez cura a endometriose. Já abordamos esse tema aqui na coluna do Dr David Redwine - A gravidez cura a endometriose? Não podemos esquecer que durante a gravidez as mulheres podem melhorar seus sintomas, mas depois... não significa que continuarão assim. Muitas continuam boas, mas outras não. Não, a gravidez não cura a endometriose. Precisamos ficar atentas aos sinais que nosso corpo apresenta. No meu caso, eu estava ótima antes da gravidez e assim continuo. Em breve vou contar a segunda parte. Vamos torcer e rezar para que tudo dê certo à nossa endomamãe. Beijo com carinho! Caroline Salazar

Por Tatiana Furiate

Olá minhas queridas! Que saudades de escrever no nosso cantinho! Mas confesso que minha vida está uma verdadeira loucura. A Hadassa está linda, ótima, crescendo cada vez mais. Já chegamos ao 4° mês de vida. Seu peso está de quase 8 quilos e ela está medindo cerca de 70 cm. Ela já faz gracinhas, dando gargalhadas para os irmãos, uma linda princesa. A fase mais complicada já passou. Júlia e Arthur aproveitam para brincar com ela e, assim, ela vem se desenvolvendo muito rápido. Ela já consegue virar sozinha na cama, acredita?! Não posso mais deixá-la nem um minuto se quer sozinha e dar aquele pulo na cozinha, por exemplo. Quando volto, ela não está no mesmo lugar. Nós, mamães de bebês, precisamos ficar atentas às atitudes deles, para que não ocorra nenhum acidente. É nessa fase que eles podem cair da cama ou do sofá, por exemplo. Por isso toda atenção é pouco. 

Minha rotina anda muito, mas muito corrida. Não é fácil liderar uma equipe de cinco pessoas diariamente. Não é fácil ter três filhos, cada um com necessidades diferentes. Cuidar da casa mais as crianças requer muito jogo de cintura. Mães e donas de casa precisam ser muito valorizadas. É a profissão que vale ouro no mercado. No pouco tempo livre que me sobra curto a família e também estou aproveitando para fazer cursos. Já fiz o de drenagem linfática especial para gravidinhas. Quero me dedicar a elas. 

Infelizmente, acho que a endo está dando as caras novamente. Após o nascimento da Hadassa, já tive duas infecções urinárias, muitas cólicas e desconforto urinário. O sangramento está pouco, pois tomo Cerazette de uso contínuo e, além disso, amamento exclusivamente minha pequena. 

A amamentação é um momento mágico e de uma intimidade maravilhosa entre mãe e filho. É um vínculo único que temos com nosso pequeno desde quando eles saíram de dentro de nós. Esse assunto também vale um post. Além desse laço afetivo, a amamentação tem para nós, portadoras de endometriose, outro grande benefício. Enquanto amamentamos ficamos livres da menstruação. Vou arrumar um tempo para ir ao urologista, especialista em endometriose do Trato Urinário. Ser portadora não é uma tarefa fácil! E ser portadora e mãe, então, é muito mais complicado, pois não podemos jamais deixar as dores tomar conta de nós, principalmente, àquelas que cuidam da casa e da família todos os dias. Existe uma galerinha que depende de mim, fora as mães que auxilio no grupo de gestante.

No próximo post vou falar um pouco mais com as mamães. Quero abordar alguns assuntos relacionado à maternidade. E, claro, vou dando notícias sobre minha investigação de um possível foco de endometriose na parte urinária. Não poderia terminar essa postagem sem parabenizar minha grande amiga Caroline Salazar, pela chegada da Babi, confesso meninas que foi difícil manter segredo durante as primeiras 12 semanas, que é o tempo ideal para divulgar uma gravidez.

Acompanhei tudo sempre torcendo e orando por vocês. Bárbara seja bem-vinda. Sua endotitia já te ama. Beijo carinhoso.  

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"SAÚDE E BEM-ESTAR": O PERFIL DA ENDOMULHER É DIFERENTE DAS DEMAIS? NOVA COLUNISTA NO BLOG!!

imagem cedida por Free Digital Photos

Hoje iniciamos mais uma parceria com o objetivo de esclarecer ainda mais sobre esta doença pouco conhecida que afeta cerca de 10 milhões de brasileiras e mais de 200 milhões de meninas e mulheres no mundo todo. Quem de nós já não foi chamada de louca por sentir dores, muitas delas inexplicáveis? Quem já não foi chamada de mole, de fraca, dentre muitos outros adjetivos de inferioridade por aqueles que não sabem o que é a doença? Pensando em tudo isso, e sempre à frente levando informações de qualidade, a psicóloga Ana Rosa Detilio Mônaco passa a ser nossa colunista mensal para esclarecer do âmbito da psicologia como a doença pode afetar nosso corpo e, principalmente, nossa mente. O mais interessante é que além de atender as endomulheres, Ana Rosa também tem endometriose, o que facilita seu entendimento sobre a doença. Faz uns 2 anos que namoro sua participação aqui no A Endometriose e Eu, desde que a conheci no programa “Papo de Mãe”. Quem persevera alcança. Agradeço à Ana Rosa por ter aceitado nosso convite. Nosso objetivo é que o A Endometriose e Eu continue a ser o blog mais completo do mundo sobre a doença. Em seu primeiro artigo, Ana Rosa traça o perfil da portadora e dá alguns recados essenciais às endomulheres. E às portadoras nunca se esqueçam que somos mulheres fortes, guerreiras, decididas, muitas vezes, pilares da família, vencedoras, perfeccionista e mil e uma utilidades! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

Psicologia versus Endometriose: O perfil da endomulher é diferente das demais?

Por Ana Rosa Detilio Mônaco
Edição: Caroline Salazar

Pensar em psicologia e em endometriose é um desafio imenso, já que nos deparamos com um tema que aborda uma patologia que está contida em um diagnóstico médico. Porém, quando abordamos a endometriose questionando o olhar da psicologia, nos deparamos com a necessidade de analisar cada indivíduo frente sua singularidade. Por mais que atualmente tenhamos mais informações a respeito desta doença tão enigmática, também nos deparamos com as questões enigmáticas dos serem humanos. E aí temos  um lugar muito fértil para refletir.

Um estudo de 2002 (Low et Al) aponta que mulheres com endometriose apresentam um determinado perfil: elas têm nível de ansiedade aumentado em relação às outras, auto exigência, insegurança, mecanismos de defesa estruturais, portanto, são mais rígidas. Alta capacidade de controle e comando, intolerância as falhas humanas ou frente as frustrações, não contato com suas emoções e onipotência.

Fico um pouco apreensiva frente tais questões, pois desde que tal pesquisa veio à tona , sinto que de certa forma muitas mulheres com a doença se sentiram acolhidas, considerando que finalmente alguém as compreendeu depois de tanto tempo. Antes dessa pesquisa muitas se sentiram e ainda se sentem sozinhas nesta vivência. E falar do perfil psicológico de mulheres com esta doença pode significar para muitas um conhecimento muito além das questões físicas, algo que remete intimidade, já que falar de comportamento é algo que gira em torno de questões muito mais primitivas. Não tenho aqui a intenção de desmerecer tal estudo, e sim, prosseguir além dele.

Pois bem, aonde quero chegar é que saber como estas mulheres funcionam, como é seu perfil psicológico, não tem apresentado conforto para suas vidas frente aos sintomas que a endometriose pode apresentar. Pode apresentar? Sim, pois nem todas as mulheres com a doença apresentam sintomas que tiram sua qualidade de vida, algumas se deparam com a doença quando tentam engravidar sem sucesso ou ainda podem demorar muito mais para descobrir ou ainda nunca chegar a este conhecimento. Questiona-se também paralelamente a relação entre tal perfil e a intensidade da dor da portadora.

Penso que percorrer uma abordagem de acolhimento, respeito e compreensão da paciente com endometriose e seus sintomas independente da intensidade. O caminho mais indicado seria oferecer um ambiente de suporte para elas. E as pessoas mais próximas e envolvidas com as endomulheres são a família e, em especial, o companheiro quando há, e o médico especialista - o profissional que elas buscam quando necessitam de ajuda -, seja para esclarecimento quanto para orientações.  Atualmente sinto que traçar características, diagnósticos ou ainda perfis é uma realidade, principalmente, na área da saúde, pois se apresenta à falsa sensação de controle e conhecimento. Por este caminho estaríamos todas no mesmo “balaio” e assim seria mais fácil ter algo a oferecer. É claro que o conhecimento médico-cientifico é fundamental para termos noção do corpo humano. Aqui estou percorrendo outro caminho, este que a medicina não pode alcançar: os sentimentos.

Portanto, mulheres portadoras de endometriose, cuidem-se e não somente do corpo, cuidem de suas emoções, conheçam-se a si próprias e não sejam vulneráveis quando dizem que vocês têm determinado perfil, pois muito do que se engloba neste “perfil” pertence a própria condição humana e não somente em mulheres com endometriose. Sinto que acolher estas informações pode levá-las a culpa, pois o que teoricamente alimentaria a doença seria características da personalidade de tais mulheres, e eu conheço mulheres que passam muito longe do “perfil” que também sofrem com a endometriose.

Doença da mulher moderna (linkar artigo), como tem sido nomeada também nos culpa por termos deixado somente de cuidar da casa e da família e soa como um castigo por termos mudado de foco. Sei de mulheres com mais idade que dão sinais legítimos de ter tido endometriose e que eram donas de casa e não produziam por outro caminho.

A qualidade de vida pode, sim, fazer a diferença para todos, mas não nos livrará totalmente de estarmos expostos a problemas com a saúde. Portanto, mulheres, não se culpem pela doença e sim busquem forças para lutar contra ela, já que ela já é presente. E a saúde emocional é um passo fundamental para encontrar saídas e força para enfrentar esta batalha que é a convivência com a endometriose.

Sobre Ana Rosa Detilio Mônaco:

Há 17 anos atuando na área cínica, a doutora Ana Rosa foi residente e atuou como psicóloga hospitalar no Centro de Referência da Mulher no Hospital Pérola Byington, em São Paulo. É especialista em saúde, em psicoterapia breve e atua também em reprodução assistida. É professora convidada do Instituo Gerar e atende em seu consultório em São Paulo.  

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

ENDOMETRIOSE É ENCONTRADA EM FETOS NA MESMA PORCENTAGEM DAS MULHERES!!

Nota do tradutor: Neste texto, a doutora Phillipa Cook resume com clareza e exatidão as terríveis consequências de acreditarmos que a endometriose é causada pela menstruação retrógrada. Além do simples fato desta teoria jamais ter sido comprovada diretamente, o fato de haver endometriose em fetos, na mesma proporção e nos mesmos locais encontrados nas mulheres adultas, falam contra essa teoria. As pesquisas que demonstraram endometriose em fetos, apesar de amplamente conhecidas pela classe médica, não são divulgadas proporcionalmente à sua grande importância, por algum motivo incerto.

Acreditar que a endometriose é causada pela menstruação significa tomar remédios hormonais, ou suspender a menstruação, acreditando que estaríamos ˜tratando" a endometriose. Significa a mulher acreditar que ela é culpada por ter endometriose, por ter postergado a maternidade ou por não ter tomado medicações prescritas. E como mencionado pela doutora Phillipa "é uma ótima justificativa para a persistência da doença mesmo após cirurgias e tratamentos de longo prazo".

É hora de refletirmos e avançarmos, para o benefício real de milhões de mulheres ao redor do mundo que têm esta terrível doença chamada endometriose. 

Por doutora Philippa Bridge-Cook
Tradução: doutor Alysson Zanatta

Edição: Caroline Salazar

Por quê a endometriose em fetos é importante?


Os médicos aceitam amplamente teorias imprecisas sobre como e porque a endometriose se desenvolve, apesar das muitas evidências contra. A aceitação dessas teorias leva à perpetuação de tratamentos médicos que não funcionam. É importante entender a origem da endometriose para que se possa mover adiante e desenvolver tratamentos efetivos para essa doença devastadora.

Endometriose e a Teoria de Sampson:

A endometriose é definida com a presença de um tecido similar ao endométrio fora da cavidade uterina. Muitos médicos e a imprensa leiga simplificam essa teoria ao dizerem que a endometriose ocorre quando o revestimento do útero é encontrado fora da cavidade uterina. Entretanto, há muitas publicações enumerando as várias diferenças entre o endométrio e as lesões de endometriose que são encontradas fora do útero. As evidências dessas diferenças datam de, pelo menos, 1981, ou possivelmente antes, e as pesquisas sobre essas diferenças seguem em andamento. Entretanto, persiste  a percepção comum que a endometriose é simplesmente o endométrio fora do útero.

A teoria de Sampson é uma teoria proeminentemente citada para explicar o surgimento da endometriose. Essa teoria sugere que a menstruação retrógrada, o sangue menstrual que flui para trás (fora do útero) através das trompas de Falópio em direção à cavidade pélvica, deposita fragmentos de endométrio na pelve, que podem então se implantarem e crescerem como lesões de endometriose.

Há vários problemas com essa teoria. Primeiro, não há nenhuma evidência que células endometriais presentes no líquido peritoneal possam aderir-se ao revestimento da pelve (o peritônio), e as células endometriais não costumam estar presentes no líquido peritoneal. Também, como mencionado anteriormente, há muitas diferenças entre o endométrio dentro do útero, e as lesões de endometriose. Além disso, 90% das mulheres têm menstruação retrógrada, mas apenas 10% têm endometriose. A teoria de Sampson não pode explicar a presença de endometriose em fetos, o surgimento de endometriose em homens (leia nossos dois textos de endometriose em homens - texto 1 e texto 2), e garotas que têm sintomas no início da puberdade ou mesmo antes da puberdade. E também não pode explicar a presença de endometriose em áreas fora da pelve, como nos pulmões, no diafragma, na pele, dentre outros.

Teorias alternativas da Endometriose – Um componente Fetal:

Teorias alternativas que se encaixam melhor às evidências têm sido propostas, incluindo a metaplasia (transformação de um tipo de célula em outro tipo de célula), defeitos do desenvolvimento embrionário (também conhecida como Müllerianose), fatores genéticos e ambientais. Entretanto, nenhuma teoria mostrou-se correta, e o mais provável é que uma combinação de várias influências contribua para o desenvolvimento da endometriose. A teoria da Müllerianose explica o desenvolvimento da endometriose como um tecido endometrial que foi deslocado (ou “colocado” em local errado) durante o desenvolvimento fetal (ainda no útero da mãe), e que mais tarde se transforma em lesões de endometriose. A evidência para suportá-la vem do fato de que a endometriose foi encontrada em fetos femininos com a mesma incidência do que nas mulheres, em torno de 10%.

A persistência da teoria de Sampson – uma rede segura para o tratamento inadequado

Por quê a teoria de Sampson continuou a ser tão persistente apesar de todas evidências contrárias? Primeiro, nenhuma teoria alternativa foi suficientemente comprovada para sobrepô-la, apesar que certamente há evidências contrárias suficientes que precisam ser derrubadas. Segundo, muitos médicos que tratam a endometriose não se especializam na doença, e a ciência por trás da sua origem é provavelmente algo que eles não tenham muito interesse.

É devastador para as pacientes com endometriose que a teoria de Sampson continue a ser aceita apesar das evidências contrárias. Ela dá aos ginecologistas um motivo para não se esforçarem para realizarem uma remoção completa da endometriose de todos os órgãos, porque não há nenhuma justificativa em se remover toda a doença já que ela irá se reimplantar na próxima menstruação. A teoria de Sampson justifica as altas taxas de recorrência observadas com cirurgiões que não se especializam em tratar a endometriose.
Entretanto, cirurgiões que se especializam na ressecção da endometriose, que removem toda a doença cuidadosamente, têm demonstrado que é possível obter baixas taxas de recorrência após uma ressecção completa. Isso requer não apenas o conhecimento de todas as aparências visuais possíveis da endometriose, mas também a habilidade cirúrgica para ressecar a doença de muitas áreas que os ginecologistas não conseguem, como a bexiga, o ureter, o intestino, ou o diafragma, por exemplo.

A teoria de Sampson e medicações que previnem a menstruação:

A teoria de Sampson fornece às companhias farmacêuticas um excelente motivo para convencer os médicos a prescreverem medicações que previnem a menstruação. Se a teoria de Sampson está correta, então, qualquer medicação hormonal que interrompa a menstruação tratará a endometriose. Muitas drogas que estão no mercado podem interromper a menstruação – Lupron e drogas similares, induzindo um estado de menopausa, e pílulas anticoncepcionais, usadas continuamente. Entretanto, como esperado, já que a teoria de Sampson não está correta, essas medicações nunca curaram a endometriose. Algumas pacientes podem ter uma melhora temporária dos sintomas, especialmente, quando os sintomas são relacionados ao período menstrual, mas as medicações hormonais não tratam a doença subjacente.

A importância da origem da doença:

Mesmo que possa parecer arcaico debater as origens da doença, e irrelevante à maioria das pacientes com endometriose, o debate é altamente relevante porque está ligado ao tratamento inadequado e ineficaz que muitas mulheres com endometriose recebem. Para que realmente haja progresso e se mova adiante na maneira como a endometriose é tratada, deverá ocorrer um reconhecimento amplo de que a teoria de Sampson é mortalmente falha. Se a endometriose está presente no feto, como já foi comprovado por alguns cientistas, então, ela é uma doença completamente diferente de menstruação retrógrada. O entendimento é importante para melhores opções de tratamento.


Fonte: Hormones Matter


Sobre o doutor Alysson Zanatta:

Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

COMO CONSEGUI MINHA "BÁRBARA" VITÓRIA DA MATERNIDADE - PARTE 1!!

Os primeiros vestidinho e sapatinhos da Bárbara, presentes da vovó Reila e das titias Isabella e Renata

Faz muito, mas muito tempo que não escrevo mais sobre minha vida aqui no blog. Depois de ter ficado 100% sem dores, após minha segunda videolaparoscopia em 2012, o A Endometriose e Eu tomou uma proporção tão grande, que ele não é apenas mais meu, mas nosso. De um diário pessoal, o blog se tornou o mais completo do mundo sobre endometriose escrito por uma portadora. Desde então, o show fica por conta dos nossos colaboradores e, de idealizadora, passei a ser apenas a editora. Excepcionalmente hoje volto a escrever mais um capítulo de minha história, pois sei que ele ajudará muitas endomulheres a manterem acesa a fé e a esperança. Vou ser mamãe!! Estou grávida de 17 semanas (4 meses e 1 semana) à espera da princesa Bárbara e, claro, não poderia deixar de compartilhar com vocês tin tin por tin tin como tudo aconteceu.

 Ser mãe nunca foi o grande sonho da minha vida, confesso. Sempre quis ser uma profissional brilhante, ganhar prêmios. Já sonhei em ser correspondente internacional, em cobrir guerras e até mesmo em ser repórter investigativa (plano abortado após a morte do brilhante Tim Lopes). Me achava diferente da maioria das minhas amigas, pois queria trilhar uma carreira antes de construir minha família. Com a descoberta da endometriose e das minhas aderências, nunca fiquei preocupada se um dia iria engravidar ou não. Sei que Deus está sempre no comando e, no fim, a decisão é somente Dele. Se tivesse de ser seria! Bem assim! E esse dia chegou! Por volta dos 34, quase se aproximando dos 35 anos, senti pela primeira vez a vontade de ter um filho. Com a pessoa certa para ser o pai dos sonhos do meu filho, fomos ao doutor Hélio Sato dar à boa-nova!

Era dezembro de 2013, e ele nos deu os primeiros exames a serem feitos. Uma batelada de exames de sangue e, dentre eles, um de extrema importância: a avaliação da minha reserva ovariana pela dosagem do hormônio anti-Mulleriano. Por conta das minhas cirurgias abertas realizadas na adolescência, uma de apêndice e uma laparotomia para a retirada do cisto de ovário, eu já imaginava que a coisa não estaria assim uma Brastemp. Sem contar a idade, pois eu já estava com 35 anos e eu sei que após os 32, 35, a reserva já começa a cair pela metade. Somada às cirurgias, então... Mas eu pensava que pelo menos ela estava no limite. No fim de janeiro de 2014 quando retornamos ao doutor Hélio, senti no seu semblante ao abrir o resultado, que minha reserva não era o que ele esperava. Ela estava um pouco baixa, nada muito, mas não era a ideal. Retirei o DIU de plástico e descobri que não era ele que me deixava sem dores, mas, sim, a cirurgia perfeita que o doutor Hélio e o doutor Roberto fizeram em 2012. Somente na primeira menstruação tive sangramento anormal, por conta da retirada do Mirena. Mas sem dores. As outras foram normais. Saímos do consultório com mais e mais exames!

Mais uma consulta, mais pedidos de exames e todos normais, inclusive, o que rastreia possíveis doenças genéticas, inclusive, a que causa a infertilidade. O exame chamado cariótipo com banda G lê todos os nossos genes, detecta possíveis síndromes cromossômicas e demora cerca de 30 dias para ficar pronto. Foi nessa consulta que eu e meu companheiro decidimos que faríamos a FIV. Na verdade a decisão foi dele, baseada no meu histórico (endometriose aderências + baixa ovulação). Como não íamos fazer a inseminação artificial, não vi se minha única trompa que estava fértil em 2012 ainda continuava boa. Para quem opta pela I.A. essa verificação é de extrema importância antes de realizar o procedimento. A partir desta decisão, o doutor Hélio solicitou o último e decisivo exame para implantação do embrião: a biópsia do endométrio. Nele descobri que estava com endometrite (uma inflamação no endométrio – a cavidade que reveste o útero). Tomei um antibiótico forte por 3 semanas para combater essa inflamação. Creio que esse cuidado especial fez toda a diferença para o sucesso da minha FIV. No dia 15 de junho comecei a indução e, no primeiro ultrassom seriado, mais uma surpresa: descobrimos que meu ovário esquerdo (aquele que retirei o cisto quando tinha 15 anos na cirurgia aberta) estava paralisado e com três alças intestinais em cima dele. Foi um semi-baque, assim posso dizer, mas minha fé me dizia: “Mantenha a serenidade tudo dará certo”. 

Era uma sexta-feira e, nessa mesma noite, o doutor Hélio me disse que se não desse para retirar meus óvulos na terça, a implantação teria de ser feita com outro médico da clínica, pois ele iria participar de um congresso internacional de reprodução na Alemanha. Eu não sabia se me preocupava com o ovário lascado ou com essa notícia. Peguei na mão do doutor Hélio e disse: “Quase não leio nada na internet, mas por acaso li que quanto menos trauma o embrião sofrer, maior a chance de ele vingar. Só vai dar certo se você implantar. Sei que os outros médicos são bons, mas eu confio em você”. Pacientemente, ele respondeu: “Calma Carol vai dar tudo certo. Se no domingo você tiver pelo menos dois folículos de 17mm, podemos fazer a coleta na terça e a implantação na sexta pela manhã”. A viagem dele estava marcada para sexta à noite. Era quase 22h e saí do consultório praticamente de joelhos, rezando e pedindo a Deus e à minha guerreira Santa Bárbara que me ajudassem a ter esses dois folículos. Confesso que estava preocupada, mas ao mesmo tempo serena e confiante. Ter um médico que te dê tranquilidade neste momento e confiar nele é fundamental para mantermos a calma. 

Domingo às 13h estávamos no consultório, e realmente foi constatado que o ovário esquerdo não estava funcionando, mas no direito eu tinha oito folículos, dois de 17mm. Bingo! Era o mínimo que eu precisava para a coleta na terça. Saímos do consultório felizes da vida! No dia 24 de junho às 8h me preparava para fazer a punção (retirar os óvulos). Já tinha escutado algumas mulheres dizerem que esse procedimento doía, que sentiam incômodo depois. Gente, eu não senti absolutamente nada. A sedação é bem pouca, e não senti nenhum desconforto abdominal, nenhum incômodo após o procedimento. As mãos abençoadas do doutor Hélio realmente são incríveis. Após minha recuperação, o doutor Hélio foi nos dar a notícia dos óvulos. Dos oito folículos eu tive apenas dois óvulos. Desses dois, um era saudável, perfeito, sem nenhuma imperfeição, mas o outro não estava bom. Eles iam tentar maturá-lo em laboratório, mas confesso que por conta da minha idade, não achei essa ideia muito boa. Mais uma vez pedi a Deus que preparasse o melhor. Se fosse para implantar um único óvulo eu aceitaria sua vontade. No dia seguinte, o doutor Hélio me ligou confirmando que o segundo óvulo não vingou e que implantaríamos o precioso embrião na sexta dia 27 às 8h, 19 dias antes do meu aniversário de 36 anos. Pela minha idade, o correto era implantar três embriões. Assim eu teria de 30 a 40% de chances de engravidar. Implantando um as chances cairiam para menos de 10%.

O dia mais importante da minha vida chegou! Após minha preparação, a embriologista entrou no quarto e disse: “Caroline não fique nervosa. Sei que um único embrião diminui a chance de gravidez, mas isso não significa ser impossível. Seu óvulo era o que chamamos de perfeito, sem nenhuma fragmentação, estava lindo e formou um embrião de classificação A. Estou sentindo que vai dar certo”. Sorri para ela como agradecimento. Os embriões são classificados de acordo com seu desenvolvimento celular de A a D. Os A’s e B’s são os melhores e podem ter melhores chances de implantação. Estava ansiosa, mas com fé. Foi muito, muito rápido. O doutor Hélio sempre muito atencioso explicou passo a passo para nós e colocou carinhosamente meu único embrião bem no fundo do meu útero. O momento foi registrado com foto, claro. Permaneci alguns minutos de repouso e, antes de ir embora, o doutor Hélio me deu um conselho valioso: “Carol vida normal, como se nada tivesse acontecido. Você só precisa repousar nas primeiras 4 horas, e depois vida normal, só não carrega peso. Boa sorte, estou torcendo”. E me deu os dois pedidos do Beta HCG quantitativo para eu fazer nos dias 8 e 10 de julho.

No dia seguinte a implantação participei do lançamento do “Movimento Fertilidade”, que reivindica tratamentos de reprodução acessíveis a todos, seja pelo SUS e pelos planos de saúde. E, no dia 8, quando o Brasil perdia de goleada de 7 a 1 para a Alemanha na Copa, eu estava radiante com o meu beta positivo! Dois dias depois repeti novamente, e com o valor mais que dobrado foi confirmada minha gravidez. Ainda tive alguns obstáculos, mas como o texto já está grande, vou escrever a segunda parte, pois sei que os mínimos detalhes farão a diferença na vida de muitas mulheres. No texto de hoje deixo um recado preciosos que me ajudou: manter a fé e acreditar que Deus sabe o que faz, sempre para o nosso bem me conduziu ao estado de serenidade que precisava nesses percalços e nos próximos que virão. Ah, adianto que espero a princesa Bárbara! Sou devota há muitos anos de Santa Bárbara e presto essa homenagem, mas o nome também tem outro significado para nós. Não senti nada durante os sete dias de indução, foi tudo perfeito! Explicarei tudo no próximo! Beijo carinhoso!!