quarta-feira, 26 de novembro de 2014

"ENDO SOCIAL": NOVO PROJETO DE LEI PODE AMPLIAR A LICENÇA-PATERNIDADE PARA 30 DIAS!!

Imagem cedida por Free Digital Photos

O texto do sociólogo Paulo Soares de hoje é uma grande revolução em torno da figura paterna na família. Um vereador de São Paulo fez um projeto de lei para ampliar a licença paternidade de 6 para 30 dias aos servidores públicos. Já aos casais homoafetivos, um terá direito a 30 dias e o outro a 180 dias. Essa notícia foi um dos assuntos mais comentados da última semana e, se aprovado, esse projeto de lei proposto será um passo muito importante na formação da família, afinal, o pai também tem o direito de participar ativamente desde o nascimento do bebê. Parabéns Paulo por discutir em sua coluna um assunto tão importante como esse! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar 


Por Paulo Soares

No último dia 18, foi lançada uma nova proposta de lei pelo vereador Nabil Bonduki sobre o aumento da licença paternidade. Isso mesmo! A ideia inicial é para os servidores municipais paulistas, que terá sua licença ampliada de 6 para 30 dias, independente se o homem for solteiro, divorciado ou viúvo. Aos casais homoafetivos, um deles terá licença de 180 dias e outro de 30. Este projeto de lei do vereador Nabil Bonduki foi lançado no último dia 18, e não tem data a ser discutido na Câmara dos Vereadores de São Paulo.

Hoje abordo esta notícia na coluna “EndoSocial”, pois o projeto abre precedente para o pai adotivo de qualquer gênero. No caso de adoção, por lei, a mulher tem direito à licença-maternidade de 180 dias e o pai de apenas 6 dias. Se o novo projeto for aprovado, o pai terá o direito a 30 dias de licença-paternidade. 

Por enquanto este direito será apenas aos servidores municipais. No entanto, muito em breve será expandido para todos os pais casados, viúvos, solteiros, separados, homoafetivos e adotivos. Pois o que está em jogo é a saúde e o bem-estar da família.

Gostei muito da resposta do vereador quando inquirido sobre o ônus nos cofres públicos, ele respondeu: “Quanto ao ônus adicional, nós temos de avaliar quais os problemas de saúde, os impactos pela falta de condições adequadas para o bebê e mãe que a ausência do pai pode causar”.

Eu acredito, segundo minha ignorância, que esta avaliação ainda não foi realizada a nível qualitativo e nem quantitativo. Mas, penso que é uma medida positiva para o convívio familiar. No mês passado compartilhei em “AVida de um EndoMarido” sobre minha opção e de minha esposa, enquanto casal, de adotar uma criança. Mas também sei a importância desta convivência nos pais que geram um filho biológico, o quanto que o primeiro mês de vida de uma criança pode colaborar na melhoria do cuidado com o filho junto com a mãe, na afetividade e no relacionamento que o pai ou o parceiro terá com a criança.

Se for um pai adotivo, ele terá um mês intensivo para criar uma aproximação com o filho. Se a mãe teve problemas no parto, se teve gêmeos ou mais, se a parceira adquiriu depressão pós-parto, se a criança nasceu prematura, o parceiro pode ser um grande apoio durante os 30 dias iniciais. Sem contar que é uma carga de adaptação, de dúvidas, de cuidados e de estresse que a mãe sozinha tem de carregar sem o pai ao lado, mas com esta nova medida pode ajudar na divisão dessas cargas de novas responsabilidades do casal.

E o ônus aos cofres públicos será pago com o bônus na área da saúde, porque esta proposta de lei ajudará na melhoria da qualidade de vida da família como um todo, corroborando com outras leis que já estão em vigência, bem como, a participação do pai nas consultas de pré-natal, a assistir ao parto do bebê ao lado da esposa e até mesmo estabilidade no emprego no pós-parto para o pai no caso de morte da mãe, gerando um impacto social positivo na sociedade como um todo, pois estas leis estão voltadas para um cuidado com o núcleo da sociedade, que é a família.


Finalmente, gostaria de destacar a importância da presença da figura paterna na família no lado afetivo, sem aquela preocupação financeira na cabeça, sendo ele o único ou principal sustentador da família, pois ele estará amparado por esta futura lei. Espero que esta lei seja aprovada e se estenda por todo território nacional e em todos os setores. Com certeza toda a família será beneficiada e a satisfação de voltar ao trabalho será muito prazerosa. Abraço e até o próximo!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

DAVID REDWINE: SE A TEORIA DE SAMPSON NÃO FUNCIONA, O QUE CAUSA A ENDOMETRIOSE?

Continuando a série desvendando a teoria de Sampson com o médico e cientista americano David Redwine, no terceiro texto o doutor Redwine discorre sobre o que sua vida clínica com mais de 30 anos de prática lhe mostrou sobre a real teoria da doença. Redwine já começara a excsião da endometriose por laparotomia, quando sua primeira esposa foi diagnosticada com a doença e, mesmo após a cirurgia diagnóstica, a dores dela não cessaram. Foi quando ele foi ao médico dela e falou: "Por que você não remove a doença?". O médico se assustou e respondeu: "Remover?" "Sim, você já tentou de tudo, inclusive, terapias medicamentosas e nada funcionou. Falta apenas tentar a excisão dos focos", devolveu Redwine. Leia a entrevista completa e exclusiva em sua passagem ao Brasil. Leia os primeiros textos do doutor Redwine "Quem foi Sampson e qual é a sua teoria para a endometriose?" "Os problemas com a teoria de Sampson - é uma teoria ou uma desculpa?". Beijo carinhoso!! Caroline Salazar


Por doutor David Redwine 
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar


Se a teoria de Sampson não funciona, então o que causa a endometriose?


Quais são os requisitos para uma teoria de origem da endometriose?

Se quiséssemos construir uma teoria de origem da endometriose, existiriam muitos requisitos baseados no conhecimento moderno da doença.

Embora todo o mundo tenha acreditado nos últimos 70 anos que a endometriose é igual ao revestimento  interno do útero, o endométrio, hoje sabemos que isso não é verdade. Os focos possuem poucos receptores de hormônios, que variam em grau quando comparados com o endométrio nativo (o de dentro do útero), causando respostas imprevisíveis aos hormônios ovarianos produzidos artificialmente.

Ainda que muitas pessoas acreditem que a endometriose sangra a cada ciclo menstrual, foi demonstrado que esse sangramento é imprevisível, não respeitando os ciclos menstruais ou não havendo sangramento. Isso causa as muitas variantes de aspecto visual da doença, que podem diferir da típica lesão “queimadura de pólvora”. Na verdade, a maioria das portadoras possuem lesões com aspecto visual “atípico”.

Portadoras mais jovens possuem lesões muito sutis, incolores e que podem mudar a sua aparência ao longo do tempo e se tornarem mais óbvias com a idade.

Sabemos que a endometriose pode ocorrer em muitas áreas do corpo. No entanto, ela é mais comum na pelve posterior e pode até ocorrer em homens. Pesquisadores da distribuição de endometriose na pelve ficaram surpresos pela consistência dos padrões encontrados encontrados na pelve.

Embora a teoria de Sampson preveja que a pelve se encha de endometriose como um barril, quando as portadoras chegam na casa dos 30, os estudos sobre o mapeamento pélvico não encontraram um aumento do número de focos relacionado com a idade, bem como, não foi observado um aumento da superfície envolvida ou estágio da doença.

A teoria de Sampson também prevê uma taxa de recorrência de 100% após a destruição cirúrgica da doença, apesar de muitas portadoras não terem focos da doença quando reoperadas, mesmo sem ter usado terapia medicamentosa após a cirurgia.

A doença pode ser invasiva ou superficial, mas a doença superficial não se converte necessariamente em invasiva. A portadora pode, inclusive, ter doença superficial e invasiva lado a lado na pelve.

Adenomiose (endometriose no músculo do útero) e tumores fibroides do útero parecem desenvolver geralmente mais tarde nas portadoras, e prolapso da válvula mitral também pode ser mais comum.

Estudos do sistema imunológico verificaram ligeiras diferenças como a diminuição das células exterminadoras naturais. Tendo isso sido postulado para facilitar a implementação do refluxo endometrial através da teoria de Sampson, as portadoras não parecem ter uma taxa de câncer mais elevada ou infecções oportunistas (exceto infecções com fungos menores, ainda assim questionáveis), que devem acompanhar um sistema imunológico decrépito.

­ Também, ninguém demonstrou o arsenal competente e robusto que deveria ocorrer no peritônio de pacientes sem endometriose como mecanismo do sistema imunológico normal.

Caraca, isso é muita teoria para checar, e ainda nem falei sobre a especulativa associação entre endometriose e infertilidade. Enquanto que muitos pesquisadores levantem a mão e falem que é possível que estejam múltiplas teorias de origem envolvidas na doença, seria legal que uma única teoria pudesse explicar tudo.

Tentando combinar todos os requisitos descritos em uma única teoria, a maioria dos teóricos racionais são inevitavelmente conduzidos ao embrião. Existe sem dúvida algo diferente acerca das portadoras além do fato de que possuem uma doença pélvica que causa dor. Não será pedir demasiado que todas essas manifestações ocorram subitamente após a puberdade? Não estaremos perante algo que surge na concepção? Como poderão todos estes fatores ser combinados? Vou dar a minha opinião em seguida.

MPE – Metapalasia Padronizada Embriologicamente

No momento da concepção, o óvulo e o espermatozoide se combinam para formar uma nova massa de DNA destinada a se tornar em um novo ser humano. Existe um sistema que controla o desenvolvimento do embrião. Esse sistema é capaz de diferenciar entre os vários tipos de células. Ele controla a diferenciação e a migração de células para os seus locais apropriados.
Esse sistema de controlo embrionário possui características semelhantes aos encontrados no sistema imunológico: a capacidade de distinguir entre tipos de células e de agir sobre essas células de certo modo.

O DNA de pacientes destinados a desenvolver endometriose possui códigos genéticos variáveis que irão distribuir curingas - aquelas que serão no futuro portadoras de endometriose. A curinga mais importante resulta em uma ligeira alteração no sistema imunológico embrionário que controla a diferenciação e o desenvolvimento dos órgãos. É essa cartada que determina se uma mulher será portadora ou não.

Com essas curingas, o sistema de controle imunológico fetal adquire uma ligeira dificuldade em direcionar as células apropriadas para a pelve para se que forme o útero.

A diferenciação e migração da genitália interna feminina geralmente ocorre na superfície posterior da pelve. Nas portadoras, certos traços de tecido são depositados na superfície posterior da pelve, que ainda não são endometriose, mas poderão se tornar mais tarde na presença do estímulo certo.

Isso explica o porquê que a endometriose se encontra mais frequentemente no Saco de Douglas, ligamentos úterossacros e nos grandes ligamentos. (Isso não se deve aos efeitos da gravidade como a teoria de Sampson afirma). Esses traços de tecido envolvem primariamente o peritônio, mas podem envolver camadas mais profundas de tecido.

Mas as curingas ainda não terminaram. Uma resulta em uma dispersão maior na distribuição desses traços em áreas mais remotas da pelve, tais como o diafragma, o trato intestinal, ou mesmo o cérebro.

Outra curinga controla o quão ativo um foco de endometriose será: áreas biologicamente mais ativas são mais prováveis de terem tecido cicatricial e doença profunda, e que também são mais prováveis de causar dor.

Ainda outra curinga determina se a portadora irá desenvolver prolapso da válvula mitral, artrite reumatoide, adenomiose ou tumores fibrosos no útero.

Na puberdade, os ovários começam a produzir estrogênio. A metapalasia (a mutação de um tipo de tecido em outro) está acontecendo como um procedimento normal da cérvix e, também, em outros locais do sistema genital feminino como resultado da estimulação hormonal enquanto a menina se torna mulher.

Contudo, o estrogênio está também atuando nos traços de tecido caprichosos que foram depositados em locais errados na fase embrionária. Esses tecidos começam a mudar e se tornam endometriose, com vários graus de distribuição geográfica, atividade biológica e capacidade de invasão que terão sido pré-determinadas geneticamente quando as curingas foram distribuídas no momento da concepção.

No começo esses tecidos não possuem cor, mas a passagem do tempo pode trazer consigo fibroses e cicatrizes em torno deles, o que pode fazer a cor mudar para amarelo ou branco. Para além disso, a endometriose segrega uma substância ainda não identificada que destabiliza os capilares próximos, fazendo com que a cor mude para vermelho ou quase preto. Essa substância também carrega glóbulos brancos, que podem libertar substâncias irritantes.

Esse estímulo do estrogênio pode ser aumentado por outras substâncias encontradas no ambiente que imitam esse hormônio, tais como as dioxinas (toxinas ambientais liberadas na atmosfera depositadas no meio ambiente). Níveis mais elevados de estrogênio podem induzir mais receptores de estrogênio nos traços metaplásticos, resultando na expressão completa da força da doença  pré-determinada.

Estudos sanguíneos em mulheres adultas com endometriose podem identificar anormalidades do sistema imunológico que são restos das ligeiras anomalias do sistema responsável pelo espectro de irregularidades no desenvolvimento associadas com a endometriose. Essas anomalias do sistema imunológico são o eco do “Big Bang” da concepção. Contudo não são um fator facilitador permitindo a ocorrência de endometriose no adulto por virtude da menstruação retrógrada.

Mulheres com endometriose pélvica podem desenvolver vários tipos de dor pélvica. Aquelas com endometriose intestinal ou diafragmática desenvolvem sintomas intestinais, dor no peito ou no ombro.

Quando a endometriose é excisada cirurgicamente, os traços de tecido que sofrem metaplasia podem ser removidos totalmente e, nesse caso, a endometriose não irá ocorrer novamente no mesmo local. Se os tecidos afetados estiverem mais profundos, a recorrência poderá ocorrer se esses traços não forem completamente removidos.

A taxa de recorrência, no entanto, é muito menor do que 100% prevista por Sampson, e quando a endometriose é descoberta, é geralmente muito menor do que a observada anteriormente. Apesar da cura cirúrgica da endometriose por excisão, algumas pacientes podem ainda desenvolver adenomiose ou tumores fibrosos e que eventualmente necessitem de tratamento através de histerectomia.

Outra razão pela qual a teoria de Sampson não faz sentido é o fato de para alguns homens em idade avançada com câncer da próstata, um dos tratamentos é a remoção dos testículos e a a aplicação de estrogênio. Isso já resultou para alguns casos em diagnóstico de endometriose na bexiga masculina ou na próstata. (Nota da editora: segue os dois textos que falam de endometriose em homens - texto 1 e texto 2)

Isso acontece porque até às 6 a 8 semanas de vida do embrião, os sistemas genitais masculino e feminino internos existem em todos os seres humanos. Nos machos genéticos, o sistema feminino deverá retroceder. Isso nem sempre acontece de forma perfeita.

E aí está. Essa é uma imagem da endometriose que é certamente mais complexa da que é proposta por Sampson. Mas uma imagem é tudo o que temos por enquanto. Uma terapia medicamentosa eficiente para endometriose está a anos-luz se o foco da atenção continuar a ser dirigido para o refluxo menstrual como sendo a causa. Até lá, excisão agressiva da endometriose continua a ser a melhor forma de erradicar a doença.

domingo, 23 de novembro de 2014

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR HÉLIO SATO!!

Em “Com a Palavra, o Especialista”, o doutor Hélio Sato vai falar sobre a endometriose umbilical, um tipo de endometriose considerado mais raro, mas que atinge muitas mulheres. Esse é um assunto muito pedido no blog. A outra questão vem da querida Cátia, uma gaúcha que mora por incrível que pareça, na minha cidade natal, no interior de Goiás. Confesso que fiquei muito emocionada com seu primeiro contato, cerca de um ano atrás, e mais ainda quando duas endomulheres nascidas lá entraram em contato comigo para pedir ajuda. Uma, inclusive, a Cinthia, que fiz questão de conhecê-la quando ela esteve em São Paulo para se consultar com o doutor Hélio. Portadora de endometriose, Cátia precisou de radioterapia para tratar um câncer na parede do útero, entre a bexiga e o intestino. Ela quer saber se a radioterapia forte que fez pode ter acabado com a endometriose. É muito gratificante saber que o blog ajuda muitas mulheres mundo afora levando informação ética, de qualidade e exclusiva que você só encontra no A Endometriose e Eu. Um beijo carinhoso!! Caroline Salazar

- Dr Hélio, explique-nos como a endometriose umbilical pode se manifestar, como e por que ela ocorre e quais os possíveis sintomas? E como é feita a cirurgia para retirada deste tipo de endometriose? Silmara Silva – Paraná

Doutor Hélio Sato: A endometriose umbilical é um tipo de endometriose extra-pélvica e os sintomas mais comum é a dor no umbigo na fase menstrual, também, pode estar acompanhado de secreção sanguínea amarronzada do umbigo e formação nodular que cresce principalmente da fase menstrual. Existem algumas teorias de surgimento da endometriose neste local atípico, pode ser que as células endometriais sejam transportadas pelo ligamento umbilical lateral ou por contato com cavidade abdominal ou transformação de células tronco em células endometriais. A cirurgia consiste em retirar toda a extensão da implantação de endometriose do local e sugiro a oportunidade para fazer uma laparoscopia para avaliar a ocorrência e o tratamento de endometriose na cavidade abdominal, pois, em torno de 50% a 75% das pacientes com endometriose umbilical tem a doença em outros locais.

 - Após descobrir que tenho endometriose, descobri um câncer na parede externa do útero, entre a bexiga e o intestino. Fiz 35 sessões de radioterapia muito forte, a anti-hemorrágica por causa da endo. É possível a radioterapia que fiz para o câncer ter acabado com a minha endometriose? Ainda estou tendo sangramento retal, isso é normal devido a radioterapia? Cátia Rejane Vasconcelos – Rio Verde Goiás

Sim! É possível que a endometriose tenha regredido por dois motivos, primariamente pela ação direta da radioterapia sobre as células da endometriose e secundariamente pela diminuição de produção hormonal pelos ovários que podem ter sido atingidas pela radioterapia. E, quanto ao sangramento retal sugiro conversar com o médico que está te acompanhando, pois, pode decorrer de várias causas.

Sobre o doutor Hélio Sato:

Ginecologista e obstetra, Hélio Sato é especializado e endometriose, em laparoscopia e em reprodução humana. Tem graduação em Medicina, Residência Médica, Preceptoria, Mestrado e Doutorado em Ginecologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e foi corresponsável do Setor de Algia Pélvica e Endometriose da mesma instituição.


Hélio Sato tem certificado em Laparoscopia pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e de Obstetrícia. É membro da AAGL “American Society of Gynecology Laparoscopy” e é coordenador de pesquisas da clínica de reprodução humana GERA e está à frente nas seguintes linhas de pesquisas: endometriose, biologia celular e molecular, cultura celular, polimorfismo gênico e reprodução humana. (Acesse o currículo Lattes do doutor Hélio Sato). 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DAVID REDWINE: OS PROBLEMAS COM A TEORIA DE SAMPSON - É UMA TEORIA OU UMA DESCULPA?

Após a apresentação de John A. Sampson, continuamos com a série de textos do médico e cientista americano David Redwine desvendando a teoria de Sampson.  No texto de hoje, Redwine discorre sobre os problemas da teoria de Sampson que torna a doença "sem cura". Antes de conhecê-lo, conheci duas de suas ex-pacientes que me disseram "terem sido curadas da doença após a cirurgia com ele". Uma, inclusive, vivia há quase 20 anos na cama antes de ser operada por ele. Ambas se tornaram ativista da doença nos Estados Unidos. Foram elas as responsáveis por me apresentá-lo. Há cerca de dois anos ele se aposentou da vida clínica, mas continua estudando a doença e passando a informação que comprovou nos seus 30 anos atuando como cirurgião da endometriose Leia aqui a entrevista exclusiva de David Redwine concedida ao blog em sua passagem ao Brasil. Vamos rumo aos 2 milhões de acessos! Obrigada a todos pela audiência! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar


Por doutor David Redwine 
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar

Os problemas com a teoria de Sampson – É uma teoria ou uma desculpa?

O conceito de fixação inicial poderia ser visto como o “Santo Graal” da endometriose. Encontrem-no e poderão provar a teoria de Sampson e convencer os céticos como eu de que ela é verdadeira. Mas deveria ter sido encontrada faz muito tempo já. Aqueles que estudaram endometriose microscópica não encontraram provas de fixação inicial. Existem apenas duas razões possíveis para a continuada falta de provas de fixação inicial:

1.      Aqueles que preferem a teoria de Sampson não buscaram as provas;
2.     A fixação inicial não ocorre porque a teoria de Sampson está errada.

A teoria de Sampson leva a um sentimento de desesperança tanto entre as portadoras como entre os médicos. Mas isso é acerca de algo mais do que incerteza científica relacionada com a origem da doença. Esse sentimento de futilidade pode ter um impacto direto no tratamento cirúrgico da doença. Se o cirurgião está convencido de que a doença simplesmente “vai voltar” após a cirurgia, ele ou ela poderá não ser tão minuncioso na remoção dos focos, e isso resultará em reincidência da doença, cumprindo assim automaticamente a profecia de que “a endometriose sempre volta”.

Se um cirurgião queima apenas a superficie da endometriose com laser ou eletrocoagulação, e acaba pensando que toda a doença foi destruida, a doença persistente poderá arcar com as culpas na forma de “recorrente” devido à teoria de Sampson.

Terapia medicamentosa poderá ser influenciada de forma semelhante. Embora ninguém tenha dado ao trabalho de fazer um estudo provando que a gravidez ou a menopausa erradicam a endometriose, toda a terapia medicamentosa é baseada em repetir os supostos benefícios desses dois estados hormonais. Sabemos que a terapia medicamentosa não erradica a doença, mas se o médico acredita que sim, então, a “recorrência” pode novamente ser a culpada de acordo com a teoria de Sampson. Será que dá pra ser mais perfeito do que isso?

Tendo a teoria de Sampson como base, a falha nas terapias medicamentosas ou cirúrgicas nunca são devidas a ineficácia do remédio ou do cirurgião, pois a pelve recebe nova carga da doença no próximo mês, e nos meses seguintes. Não é uma falha do sistema, é a natureza da doença.

Os médicos não precisam buscar outras respostas sobre seus métodos de tratamento, já que a falha está explicada e prevista, e não é culpa deles. No meu ponto de vista, a teoria de Sampson é na verdade a desculpa de Sampson na nossa era.

Com toda essa conversa, eu não estou culpando John Sampson por nada, e não quero que as pessoas pensem que eu o estou desrespeitando. Ele foi um excelente estudante de endometriose, e fez o melhor que conseguiu ao desenvolver essa teoria de origem com os fatos que tinha disponíveis na época. Se ele soubesse o que sabemos hoje, estou certo de que não teria apresentado a mesma teoria.

O problema está na capacidade humana de aceitar coisas do passado sem as questionar, e isso continua sendo um problema nos dia de hoje. Precisamos de mais gente questionando de forma saudável a autoridade.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

DAVID REDWINE: QUEM FOI SAMPSON E QUAL É A SUA TEORIA PARA A ENDOMETRIOSE?

O americano doutor John A. Sampson 

Muito se fala na teoria da menstruação retrógrada, ou simplesmente, a teoria de Sampson como a principal causa da endometriose. Mas você sabe quem foi Sampson? Você sabe o que diz sua teoria? Você sabe se essa teoria foi comprovada cientificamente? Há provas de que a endometriose é causada pela menstruação retrógrada? Se mais de 80% das mulheres no mundo têm a chamada "menstruação retrógrada" por que apenas 10 a 15% delas desenvolvem a doença? Nosso parceiro exclusivo, o médico, cientista e estudioso da endometriose, o americano David Redwine decifra quem é Sampson e discorre sobre sua tão falada teoria. Hoje iniciamos um bloco das traduções do Redwine que vai ajudar a tirar o principal mito sobre a doença. Esse é apenas o primeiro texto! Estamos rumo aos 2 milhões de acessos, e esses textos são o presente especial do nosso colaborador voluntário, o endo marido português, Alexandre, aos leitores do blog. Meu agradecimento especial ao Alexandre por usar os dias de suas preciosas férias a trabalhar nesses textos. Leia aqui a entrevista exclusiva de David Redwine concedida ao blog em sua passagem ao Brasil. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

Por doutor David Redwine
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar

Quem foi Sampson e qual é a sua teoria para a endometriose?

Quem foi Sampson?
Um bacharel em ginecologia de Albany, Nova York.

Qual é a teoria de Sampson?
Trata-se da teoria de origem da endometriose mais aceita e popular, desenvolvida na década de 1920.

O que afirma essa teoria?
Todo mês, durante a menstruação, ao invés de todo o sangue menstrual sair pela vagina, alguma porção desse sangue segue o caminho inverso e acaba voltando pelas trompas. Esse sangue menstrual carrega algumas células vivas do revestimento do útero. Essas células entram em contato com a superfície da pelve, onde se depositam, implantam-se e daí se transformam em endometriose. Uma versão anterior da teoria postulava que a endometriose poderia ocorrer por implantação resultando da ruptura e derrame dos endometriomas do ovário (cistos conhecidos como "chocolates").

O que prevê essa teoria?
A teoria de Sampson prevê que a endometriose irá progressivamente espalhar pela pelve com o passar do tempo, igual a semente de dente de leão (nota do tradutor: sabe aquela planta que as crianças adoram brincar de assoprar e que sai vários pedacinhos? O vento bate e espalha a semente de dente de leão, do mesmo jeito que as células endometriais se espalham na pelve soltando um monte em pedacinhos quando bate o vento). Mais e mais superfícies na pelve serão afetadas pela doença, e a taxa de recorrência após remoção cirúrgica será de 100%.

Existe prova cientifica irrefutável apoiando essa teoria?
Não, e já deveria existir considerando o tempo que passou (quase 100 anos após sua descoberta). A literatura sobre a teoria de Sampson detalha uma variedade de provas circunstanciais que parecem suportar quase todos os pontos da teoria. Foram encontrados traços de sangue no dialisato peritoneal (nota da editora: líquido drenado do abdômen) durante o fluxo menstrual em mulheres que realizavam diálise para doença renal (embora esse estudo não tenha buscado a presença de células endometriais).

Nas laparoscopias realizadas durante o período menstrual, foram observadas fluido com sangue saindo das trompas de Falópio (embora quando inserido uma vareta rígida no útero para manipulação, isso também pode causar algum sangramento cuja saída pode ocorrer forçadamente pelas trompas). Células endometriais foram encontradas nas trompas, no fluido peritoneal e também no sangue menstrual.

As células endometriais que foram encontradas no sangue menstrual são viáveis e podem ser cultivadas em laboratório (ainda que tenham crescido em tecido subcutâneo das próprias dadoras em apenas 11% dos casos). Sampson demonstrou que se uma histerectomia fosse realizada durante o período menstrual, se o cirurgião cortasse a trompa de Falópio junto ao útero e apertasse-o com os dedos, poderia fazer com que o sangue saísse da ponta da trompa cortada. A distribuição da endometriose na pelve tem sido apontada como uma das provas fortes que apoiam a teoria de Sampson.

Foi debatido que os ovários eram a área pélvica geralmente mais afetada, já que estão mais perto do término das trompas de Falópio. Por isso a deposição e a fixação das células endometriais expelidas deveriam ocorrer primariamente nessa região (eventualmente, Sampson percebeu que os ovários não são a área mais afetada, e sim, a parte inferior da pelve).

Foi mais tarde postulado que o fundo da pelve é a área mais afetada devido aos efeitos da gravidade, que puxaria essas células endometriais viáveis para o Saco de Douglas (então, a teoria de Sampson pode sofrer mutações para se ajeitar à informação disponível).

Foi sugerido que a endometriose se espalha progressivamente como se tratasse de um campo agrícola sendo semeado (observações em mulheres de idade mais avançada não demonstraram uma maior distribuição da doença no mapa pélvico).

Foi debatido que a existência de uma taxa de recorrência de 100% após a cirurgia se deve ao simples fato de que a pelve recebe novas células endometriais todo o mês (e, no entanto, as taxas de recorrência publicadas são bem menores que isso) e a elevada taxa de “recorrência” será simplesmente devida à persistência da doença que não foi destruída pela vaporização superficial a laser, ou eletrocoagulação, ou terapia medicamentosa.

Joseph Meigs, um renomado ginecologista de meados do século XX, escreveu em 1953 que a endometriose poderia ser curada através de cirurgia conservativa (isso mesmo, ele usou a palavra começada pela letra C).

Se você não olhar com muita atenção e de forma crítica para a teoria de Sampson e ignorar as palavras entre parentesis, ela parece bastante perfeita. Se pelo menos a realidade das portadoras coincidisse com a teoria, tudo seria perfeito. Mas não é. A vida é imperfeita porque a teoria está errada e existem dados científicos inegáveis que mostram isso mesmo.

Para entender a falha da teoria de Sampson, tudo que precisamos fazer é visualizar uma floresta de pinheiros. Quando percorremos o terreno da floresta, o que está estalando por baixo dos nossos pés? É o som de pinhas embaixo dos nossos sapatos. Quando olhamos para o chão, verificamos que a gravidade mantêm as pinhas no chão. Também poderemos observar novos rebentos e árvores jovens entre as que já atingiram a maturidade.

Agora vamos imaginar o assoalho pélvico. A teoria de Sampson prevê que células endometriais individuais devem grudar nas superficies do assoalho pélvico em quantidades assinaláveis. Essas células não são pequenas e devem ser facilmente observáveis através de um microscópio. Deveria ser facílimo descobrir essas células grudadas. Poderíamos inclusive fazer biópsias aleatórias e esperar encontrar essas células com um microscópio. A essa altura os livros deveriam estar cheios de microfotografias de dezenas ou centenas dessas células grudadas.


Além disso, deveria existir abundância de provas da invasão progressiva dessas células grudadas na superfície pélvica, seguido da evolução dessas células para o estado de endometriose. Esse trajeto da ligação inicial das células endometriais e a sua metamorfose para endometriose  deveria ser informação fácil de encontrar e de provar através de registros fotográficos. Essas provas visuais deveriam constituir a introdução de cada apresentação da teoria de Sampson em cada manual, e, no entanto, não estão lá porque essa abundância de provas não está disponível.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

COMO CONSEGUI MINHA "BÁRBARA" VITÓRIA DA MATERNIDADE - PARTE 2!!

 Eu e Bárbara - 19 semanas!

Agradeço o imenso carinho e os recados deixados na primeira parte da minha história sobre a minha “Bárbara - Vitória da Maternidade”.  Fiquei muito emocionada com as mensagens carinhosas e de muita luz. Após o segundo Beta HCG no dia 10 de julho confirmando minha gravidez, o doutor Hélio Sato pediu para marcar minha primeira consulta de pré-natal em duas semanas. No dia 15, após comemorar meus 36 anos num restaurante japonês maravilhoso (meninas grávidas podem, sim, comer peixe cru, só não pode carne bovina crua por conta da toxoplasmose), cheguei em casa e, quando fui tomar banho, levei o maior susto: estava tendo um sangramento. Eram quase 22h, mas imediatamente liguei para o doutor Hélio. Calmamente, ele pediu para eu ficar de repouso e repetir o Beta HCG em três dias. É claro que o coração fica na mão, mas o mais difícil foi eu ter de fazer repouso, já que vivo ligada numa tomada de 220w. Passei esses três dias trabalhando no blog deitada no sofá. Como minha última menstruação foi no dia 15 de junho, o susto foi maior. Fiz o exame e, ao chegar o resultado, enviei-o por e-mail ao doutor Hélio, que respondeu: “Está excelente! Evoluindo bonitinho, bonitinho! Vamos fazer ultrassom na próxima semana”. Saí do repouso e, depois, tive mais dois sangramentos leves. Porém, esses eram diferentes do primeiro. O sangue do primeiro era bem vermelho, aquele vermelho-vivo, o sangue igual ao da minha menstruação saudável. O sangue dos outros dois eram mais escuros. Pela primeira vez pesquisei na internet e li que pode haver sangramentos quando o embrião está se colando ao endométrio – processo chamado de nidação. Tive certeza que era isso.

No dia 25 de julho, fomos para a consulta mais esperada: escutar pela primeira vez o coraçãozinho do nosso precioso embrião. O coração acelerado, mais de 160 batidas por minutos, confirmou a gestação. Este ultrassom mostrou que o embrião estava distante do colo do útero, o que é um bom sinal, já que produz menos chance de aborto. No dia 15 de agosto, eu tinha um compromisso especial: eram os 25 anos da Gastroclínica Cascavel, no Paraná, e eu já tinha marcado esse compromisso desde abril. Por causa dos sangramentos (isso porque só falei de dois ao doutor Hélio), o doutor Hélio disse que só iria dizer se eu poderia pegar avião na consulta seguinte, na semana da viagem. Avisei à Soraia, da Gastro, que avisou o doutor Sagae. Claro que rezei e entreguei tudo para Deus, pois só ele sabe o que é melhor para todos os seus filhos. Dois dias antes da viagem, recebi a permissão para viajar e, no dia 14 de agosto, lá fomos nós: eu e meu precioso embrião (com apenas 9 semanas). No dia 19 de agosto fui ao laboratório para fazer a sexagem fetal. Eu e papai estávamos ansiosos (mais o papai, porque eu já intuía que seria uma menina) e não queríamos esperar as 16 semanas para ver no ultrassom. Três dias depois, saiu o resultado: nossa princesa Bárbara estava a caminho (e a mamãe acertou na intuição). No dia 3 de setembro, ao completar 12 semanas de gravidez, avisamos nossas famílias e todos ficaram radiantes com a chegada da nossa pequena.

Com 13 semanas, com permissão do doutor Hélio, retornei ao Pilates – que havia parado em fevereiro por conta dos compromissos da Endo Marcha (aproveite e curta nossa fanpage da Marcha Brasil e faça seu cadastro para a Endo Marcha Brasil 2015). Faço Pilates com fisioterapeutas, por causa da gravidez, com moderação e não tão pesado como fazia antes. Engordei pouco mais de cinco quilos. E o único efeito colateral que tenho sentido até o momento é dor de cabeça nos dias de muito, muito calor. Não tive nenhum enjoo, ânsia de vômito, nadica de nada durante as 15 primeiras semanas. Todos os sintomas iniciais da gravidez, eu não tive. Como odeio vomitar, confesso que esse era um ponto que sempre me incomodou quando pensava numa possível gravidez. Mais uma vez, Deus foi muito generoso comigo. Segundo o doutor Hélio, minhas dores de cabeça são musculares, problema que já tenho devido ao diagnóstico tardio da endo e, como não posso mais tomar os relaxantes musculares que tomo há anos, sem contar remédio para dor de cabeça, por causa da gravidez, então, sobra pra minha pobre cabeça... O Pilates, claro, ajuda a relaxar meus músculos, mas como ando muito a pé e carregando tudo nos ombros, já viu, né?  Somado ao calorão bravo das últimas semanas....

Resolvi compartilhar minha história por ter certeza que ela ajudará muitos casais a encontrarem uma luz no fim do túnel. Preciso dizer que fui muito bem monitorada pelo doutor Hélio durante o período de indução da ovulação. Não senti nenhum efeito colateral. Não fiquei com o nervo à flor da pele. Era como se nada tivesse acontecido. Não senti nada durante e muito menos após a punção dos óvulos. Ouvi dizer que a maioria sente cólicas, eu não senti nada. Foi como se eu não tivesse feito o procedimento. Também não senti nada após a implantação do embrião.  Todo o universo conspirou a favor e, claro, sempre tive a certeza que fiz a escolha certa do profissional que me acompanha. O doutor Hélio não é um especialista em reprodução que se especializou em endometriose. Ele é ginecologista e obstetra, que se especializou em endometriose para, só depois, quando passou a ver o sofrimento de suas pacientes inférteis, se especializar em reprodução humana para ajudá-las a realizarem seu sonho da maternidade.  É óbvio que Deus e a minha fé estão acima de todas as coisas, mas saber que você tem ao seu lado um profissional ético, humano e honesto faz muita diferença no Beta positivo. Ele teve o cuidado de pedir todos os exames possíveis para consagrar o resultado positivo – no meu caso, a biópsia do endométrio, que me possibilitou tratar a endometrite que eu tinha e não sabia – o que foi fundamental para eu ter meu Beta positivo. 

Agradeço também à minha Santa Bárbara. O nome Bárbara nada mais é que uma homenagem à minha Santa com a mágica coincidência de ser um nome grego, uma das raízes do papai dela. E estamos à espera de nossa princesa para o início de março, o mês internacional de conscientização da endometriose, um feito que o A Endometriose e Eu trouxe ao Brasil. Duas mágicas coincidências, mas como coincidência não existe e é apenas “a mão de Deus para dizer que você está no caminho certo”, então, estamos no caminho certo. Se antes eu já lutava com unhas e dentes pelo coletivo das endo mulheres brasileiras, agora que terei uma filha, podem ter certeza que terei mais um motivo e a mais preciosa aliada nesta luta. Hoje tivemos mais uma consulta de pré-natal. Estou de 21 semanas e Bárbara já mede 25 cm e pesa 400 gramas. Segundo o doutor Hélio Sato, ela deverá nascer no dia 1° de março de 2015. Já começo a sentir algo repuxando a minha pele, deve ser ela em suas primeiras mexidas. Não vejo a hora de isso acontecer! Todas dizem que esse é um momento mágico! Aos poucos vou relatando essa nova experiência em minha vida aqui no blog. Se eu puder dar um conselho às tentantes aí vai: durante as 12 primeiras semanas não conte a ninguém sobre a gravidez. Sei que é difícil, mas manter segredo e apenas sua energia e a do companheiro no novo ser que está a caminho, a meu ver, é fundamental para tudo dar certo. Obrigada a todos pela audiência, estamos rumo aos 2 milhões de acessos! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

terça-feira, 4 de novembro de 2014

"GESTAÇÃO DO CORAÇÃO": POR QUE OPTEI GERAR MEU FILHO NO CORAÇÃO?

Imagem cedida por Free Digital Photos
É com grande satisfação que estreamos hoje a coluna "Gestação do Coração", que vai contar a saga de Ane e Paulo em busca do sonho de serem pais. Ane é quem vai escrever a coluna relatando passo a passo como é o processo de adoção no Brasil. Ane é nossa velha conhecida no blog. Ela é esposa de Paulo, que escreve a "Endo Social" e também a "A Vida de um Endo Marido". Já contamos a história dela com a endo e a infertilidade no blog, e com certeza, essa será mais uma coluna com o objetivo de levar mais esperança, mais perseverança e, principalmente, mais amor aos endo casais, em especial, às endo mulheres. Nos outros textos que falamos sobre o tema, vi que há grande repercussão nos grupos, pois há sim muitas pessoas que também optaram por ter seus filhos de coração. Mas, também, há aqueles que torcem o nariz quando o assunto é abordado. Pretendemos tirar o mito de que filho é apenas aqueles que geramos em nossa barriga. Mesmo quando geramos em nosso ventre, de onde vem o amor? Não é do coração? Então, porque não gerar um filho lá?! A coluna vai tratar, em especial, da adoção tardia e também daqueles que são excluídos, como por exemplo, as crianças negras. O filho de Ane e Paulo será de um dos menos propensos a adoção. Meus parabéns ao casal por ter a mente e o coração tão abertos ao amor ao próximo, e por dar chance a uma criança fora do estereótipo de adoção a voltar a sorrir! Por isso tenho certeza do sucesso desta coluna. Aqui abriremos espaço àquelas que querem contar suas histórias com seus filhos do coração. A coluna ficará hospedada em "Superando a Endo Infertilidade". Não podemos nunca perder a fé e a esperança de realizar nossos sonhos. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

Por que optei gerar meu filho no coração?

Por Ane Bulcão 

Olá queridos leitores e queridas leitoras! Após contar minha história com a endometriose no A Endometriose e Eu, passo a ser a nova colunista do blog. Na coluna intitulada “Gestação do Coração” vou falar sobre a experiência de gerar um filho no coração... Pois é, como meu esposo Paulo contou no mês passado em “A Vida de um Endo Marido - Por que resolvi ter meu primeiro filho de coração”, não podemos ter filhos naturalmente e a indicação dos médicos de fazermos a FIV está fora de cogitação neste momento, pois o alto-custo do tratamento foge de nossas possibilidades financeiras.

No entanto, isso nunca foi um motivo de tristeza ou frustração para nós, pois bem antes de sabermos de minha doença, ainda quando eu e Paulo namorávamos, nós já tínhamos decidido em adotar uma criança. Sempre tive esse sonho que foi inspirado ao ver meu pai que com muita dedicação lutava para defender os direitos de crianças e adolescentes da pequena cidade onde morávamos na Bahia. Meu pai era conselheiro tutelar e também foi presidente do conselho da criança e do adolescente e isso me fascinava e eu dizia comigo mesma: “Quando eu crescer eu vou adotar uma criança, graças a Deus, Paulo também sempre teve esse sonho. Quando fomos conversar sobre esse assunto, a princípio ambos ficamos apreensivos com medo do outro não aceitar (risos), mas Deus é lindo e sabe o que faz né. Quando resolvemos compartilhar com os amigos sobre a decisão de adotar uma criança, nós ouvimos de tudo um pouco, desde aqueles que nos parabenizaram e incentivaram, aos que tentaram nos dissuadir com argumentos nada sólidos do tipo: diziam que é perigoso adotar porque não se sabe de onde vem a criança e que ela talvez poderia “reproduzir” as coisas ruins que seus pais de repente tivessem feito! Imagina só que loucura.

Mas nós entendemos que filhos são benção de Deus, e que a adoção é um ato de amor sublime e a inspiração encontramos no próprio Pai do céu que nos adotou como filhos através de Jesus Cristo. Também tivemos de saber lidar com a estranheza e preconceito velado de muitos, uma vez que o perfil de criança que escolhemos está fora do padrão convencional dos pretendentes a adoção, pois optamos pela adoção tardia (criança com idade acima de 3 anos até os 7 e meio), e criança negra. Nós conversamos muito sobre isso e os riscos que implicariam nessa decisão, e vamos em frente.

Ficamos imaginando essas crianças que estão nos abrigos vendo as pessoas entrando e saindo de lá com bebês brancos no colo... (essa é a preferência da maioria dos pretendentes a adoção). Penso que por vezes estes pequenos em sua oração antes de dormir peçam a Deus que alguém os escolham para dar-lhes um lar e nos comovemos. Tenho uma amiga que adotou uma criança, e ela me falou que certa vez quando ela foi num abrigo olhar algumas crianças, uma menina de uns 5 ou 6 puxou a barra de sua saia e disse-lhe: “Tia me adote, eu vou ser uma boa filha, vou arrumar meu quarto e te obedecer!” Nossa, meu coração se encheu de compaixão e amor e se antes eu tinha alguma dúvida com este testemunho de minha amiga, elas se acabaram. Essas crianças necessitam de um lar onde elas se sintam amadas e protegidas. Eu acredito que nós seres humanos estamos em constante formação, nunca prontos e acabados, por isso a máxima de que seria impossível educar uma criança maior por que ela já estaria com seu caráter e personalidade formados, na minha concepção não passa de clichê ou desculpa para não adotar, uma vez que educar uma criança grande demandaria maior esforço e dedicação, e sobretudo, muito amor para não desistir tão facilmente desta vida. Caso venham surgir problemas, isso não significa que esta tarefa seja impossível. Sei de uma coisa, Deus nos ama incondicionalmente e não desiste nunca de cada um de nós, mesmo quando somos rebeldes e lhe voltamos as costas, por isso eu acredito no poder transformador do amor.

E foi nessa certeza que no final do mês de agosto eu e Paulo demos entrada com a documentação no fórum da nossa região aqui em São Paulo, dando início oficialmente, à nossa gestação no coração. Como toda gestação leva um tempo desde o início até o fim pretendemos compartilhar cada passo e progresso que fizermos neste processo, com todos os leitores do blog, que também abriram seus corações para este nobre ato de amor e que entendem que ser mãe ou ser pai é muito mais do que gerar, é também quem cria com todo amor e carinho. E àqueles que de repente não se sentem preparados para adotar, entendo que nem todos estão prontos para tal, isso é direito que cada um tem, mas por favor uma dica que dou (somente aos que fazem isso, tem gente que não faz) se você não quer também não precisa ficar tentando fazer mudar de ideia quem deseja adotar com os argumentos já citados acima, pois assim como as crianças que estão nos abrigos, tem direito de ter uma família que as ame, essas pessoas também tem direito de se permitirem ser “adotados” por uma criança e vivenciarem esta linda experiência de serem mães e pais.


Devo dizer que cada progresso feito será relatado aqui, de acordo com o andamento do processo, por isso creio que isso não acontecerá mensalmente, pois como nós sabemos aqui em nosso Brasil o processo de adoção não é tão rápido. No próximo texto contarei como foi a visita da assistente social na nossa casa e a entrevista com a psicóloga no fórum, como nos sentimos nos dias que antecederam a este momento. Espero do fundo do meu coração que essa coluna possa levar ainda mais esperança aos endo casais que se encontram na mesma que eu e meu marido, e que ela ensine a todos nós como é dar um lar a uma criança que precisa de muito amor. Fiquem com Deus. Um beijo carinhoso!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

"A VIDA DE UM ENDO MARIDO:" A PERSPECTIVA DE UM ENDO MARIDO!!


Imagem cedida por Free Digital Photos

Quando iniciamos esta coluna, já era esperado seu sucesso, pois sabemos como é difícil entender como é viver com quem tem endometriose. Era sabido que muitos companheiros de portadoras de endometriose iriam se identificar com os relatos do nosso endo marido Alexandre. Depois chegou o Paulo, que também colabora com a coluna. Um ano e nove meses depois temos a nítida certeza que cada vez mais, "A Vida de um Endo Marido" é importante não apenas ao companheiro que convive diariamente com uma portadora de endo, mas também aos amigos e familiares de todas que vivem com a doença. Essa é uma das mais importantes coluna do blog. Muitas mulheres e companheiros se identificarão com o texto abaixo. É uma tradução de outro endo marido que sabe como é conviver dia a dia com uma portadora de endometriose. Só quem sente ou já sentiu as dores severas da endo, ou quem convive com quem as sente, sabe bem o que é isso. Infelizmente, muitas pessoas que não sabem como são essas dores, nos julgam o tempo todo, falam milhões de asneiras quando falamos a verdade sobre a doença, e logo vem a comparação com outras doenças. Com isso, muitas endo mulheres se calam e se fecham ainda mais num mundo só delas, assim como a doença que pode se manifestar de uma forma invisível. Muitas portadoras experimentam à dor crônica ainda muito jovens, com isso, perdem sua qualidade de vida e têm mais dias de dores em suas camas que dias de lazer ao lado de suas famílias e amigos. Por mais difícil que seja, não podemos ficar caladas, precisamos nos unir numa voz uníssona para mostrar a realidade desta doença que tanto maltrata milhões de mulheres mundo afora. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar


Endometriose: A perspectiva de um endo marido

Por Dr Jeremy Bridge-Cook
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar

Pela terceira vez nesta semana eu estou sozinho ajudando as crianças com os deveres de casa, levando-os para fazerem seus esportes, dando a janta, limpando a cozinha e colocando-os na cama. Minha esposa está lá em cima deitada na cama, sentindo uma dor tão lancinante que a única forma de ela aguentar o dia é se entupir de analgésicos, soporíferos e deitar na cama o quanto antes.

Enquanto eu levo nossos filhotes para as suas atividades, me preocupo muito em como minha esposa está aguentando, em especial, na parte emocional. Isso não é novidade para ela. E para mim, me preocupar com minha esposa é parte da minha vida enquanto endo marido. Minha esposa tem endometriose desde os 13 anos de idade, mas a doença apenas se tornou debilitante quando ela passou dos 30. Na última década ela tentou todo o tipo de medicamento e tratamento alternativo disponível, buscando soluções para a sua dor e muitos outros sintomas e complicações secundárias.

Todos os dias a gente fala sobre como ela está se sentindo. Ela avalia vários dos seus órgãos em uma escala de dor de 1 a 10. “Minha bexiga está em 7 nessa manhã, infelizmente, mas meu sistema gastro-intestinal está apenas 3, meu útero e peito quase não tem dor. Então, até agora o dia até que não está sendo ruim”.

Após o relatório de dor matinal, frequentemente discutimos estratégias de medicação e outros tópicos relacionados com sua saúde, tentando encontrar o melhor plano para minimizar a dor de minha esposa e aproveitar ao máximo o dia dela. Esse tipo de diálogo também faz parte de ser um endo marido.

A endometriose é uma doença particularmente complexa, pois pode afetar quase qualquer órgão do corpo. Cada paciente experimenta a sua própria versão da doença, mas quase sempre de uma forma muito dolorosa. Uma das implicações desse fato é que  é necessário uma equipe de especialistas (preferencialmente cirurgiões), para providenciar os melhores cuidados possíveis, liderados por um cirurgião/ginecologista bem treinado em excisão laparoscópica.

Infelizmente esse tipo de cuidados raramente estão disponíveis. O que geralmente ocorre é a mulher receber uma prescrição para terapia hormonal ou de outro tipo, e são mandadas para casa para aguentar a dor do jeito que conseguirem. A sua dor é geralmente explicada pelos médicos como sendo de origem hipocondríaca ou como mentira para obtenção de drogas (remédios). Considerando o tanto que essa doença é comum e debilitante, a qualidade dos cuidados prestados a essas mulheres é horripilante. Como marido que tem que ver sua esposa sofrer horrores por anos, eu recebi um treinamento em segunda mão, mas de perto sobre o que é ser portador de uma doença crônica sobre a qual o sistema médico não está nem aí. Alguns anos antes, minha esposa e eu debatemos sobre como ela deveria falar com amigos e colegas sobre a sua doença. Sendo uma pessoa naturalmente introvertida, era contra os instintos falar abertamente sobre o seu corpo e os sintomas que experimentava, especialmente, porque o seu período menstrual ou ovulações estavam inerentemente envolvidos nos sintomas, para não falar de órgãos como a bexiga e os intestinos.

A minha posição sempre foi a mesma: “Fale a verdade para eles. Não esconda nada nem adoce a realidade. Porquê você deveria fazer isso? Você não fez nada de errado!” Eventualmente, minha esposa se acostumou a ter esse tipo de diálogo. Algumas pessoas ficam desconfortáveis, mas isso é um problema delas, não de minha esposa.

Como endo marido, gradualmente, eu fui ficando enojado e revoltado sobre a forma como essa doença é ignorada e, consequentemente, as portadoras que dela sofrem. A pesquisa é virtualmente não-existente quando comparada com outras doenças consideradas mais importantes. Cuidados médicos coordenados são raros. Mitos e desinformação, mesmo entre ginecologistas, estão por toda a parte. Não existe um procedimento estandartizado, nenhuma guia de tratamento baseada em provas concretas. As mulheres são abandonadas para sacarem por elas mesmas como ultrapassar a doença.

Incrivelmente, minha esposa é uma das mais sortudas portadoras que existe. Ela é cientista com doutorado, e por isso, pode pesquisar na literatura científica e clínica enquanto procura determinar quais os melhores cuidados possíveis. Ela tem uma forte rede familiar e de amigos (incluindo muitas portadoras). Foi capaz de manter um trabalho por meio período até pouco tempo. E temos dois filhos maravilhosos que muito ajudam-a que se sinta motivada para lutar contra essa doença com unhas e dentes, mesmo nas horas mais desmotivadoras e desesperadas que passamos.

Quando ela me pediu se eu estaria interessado em escrever um breve artigo sobre endometriose na perspectiva da pessoa que acompanha e apoia, eu topei na hora. Agradeci a chance de pedir para todas as portadoras a mesma coisa que eu pedi para ela anos atrás. Por favor, fale toda a verdade para todo o mundo que te perguntar como você está. Não esconda nem invente uma versão adoçada. Após todos esses anos assistindo a luta e sofrimento de minha esposa, tem uma coisa que eu aprendi na dura: O único jeito de essa doença deixar de ser invisível e ignorada é se todas as portadoras e seus companheiros se unirem, falando a uma só voz e exigindo melhorias. É por isso que o mês de conscientização para a endometriose existe (mês de março). E essa é a minha fervorosa esperança enquanto endomarido.

Nota do tradutor: Essa tradução foi feita nos intervalos em que eu constantemente medi a pressão arterial de minha esposa, indo no quarto e checando como ela estava. A realidade que o autor relata é a de muitos companheiros que de forma dispersa vivem no silêncio de suas casas o mesmo drama. Unidos faremos com que escutem a nossa voz e um dia venceremos. Separados seremos vencidos pelo cansaço e desgaste, sem nos revermos em outros casos e sem saber onde e com quem podemos contar e aprender algo mais. Enquanto não existir união entre aqueles que sofrem com a endometriose não surgirá uma verdadeira solução.

Fonte: Hormones Matter