quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DAVID REDWINE: OS PROBLEMAS COM A TEORIA DE SAMPSON - É UMA TEORIA OU UMA DESCULPA?

Após a apresentação de John A. Sampson, continuamos com a série de textos do médico e cientista americano David Redwine desvendando a teoria de Sampson.  No texto de hoje, Redwine discorre sobre os problemas da teoria de Sampson que torna a doença "sem cura". Antes de conhecê-lo, conheci duas de suas ex-pacientes que me disseram "terem sido curadas da doença após a cirurgia com ele". Uma, inclusive, vivia há quase 20 anos na cama antes de ser operada por ele. Ambas se tornaram ativista da doença nos Estados Unidos. Foram elas as responsáveis por me apresentá-lo. Há cerca de dois anos ele se aposentou da vida clínica, mas continua estudando a doença e passando a informação que comprovou nos seus 30 anos atuando como cirurgião da endometriose Leia aqui a entrevista exclusiva de David Redwine concedida ao blog em sua passagem ao Brasil. Vamos rumo aos 2 milhões de acessos! Obrigada a todos pela audiência! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar


Por doutor David Redwine 
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar

Os problemas com a teoria de Sampson – É uma teoria ou uma desculpa?

O conceito de fixação inicial poderia ser visto como o “Santo Graal” da endometriose. Encontrem-no e poderão provar a teoria de Sampson e convencer os céticos como eu de que ela é verdadeira. Mas deveria ter sido encontrada faz muito tempo já. Aqueles que estudaram endometriose microscópica não encontraram provas de fixação inicial. Existem apenas duas razões possíveis para a continuada falta de provas de fixação inicial:

1.      Aqueles que preferem a teoria de Sampson não buscaram as provas;
2.     A fixação inicial não ocorre porque a teoria de Sampson está errada.

A teoria de Sampson leva a um sentimento de desesperança tanto entre as portadoras como entre os médicos. Mas isso é acerca de algo mais do que incerteza científica relacionada com a origem da doença. Esse sentimento de futilidade pode ter um impacto direto no tratamento cirúrgico da doença. Se o cirurgião está convencido de que a doença simplesmente “vai voltar” após a cirurgia, ele ou ela poderá não ser tão minuncioso na remoção dos focos, e isso resultará em reincidência da doença, cumprindo assim automaticamente a profecia de que “a endometriose sempre volta”.

Se um cirurgião queima apenas a superficie da endometriose com laser ou eletrocoagulação, e acaba pensando que toda a doença foi destruida, a doença persistente poderá arcar com as culpas na forma de “recorrente” devido à teoria de Sampson.

Terapia medicamentosa poderá ser influenciada de forma semelhante. Embora ninguém tenha dado ao trabalho de fazer um estudo provando que a gravidez ou a menopausa erradicam a endometriose, toda a terapia medicamentosa é baseada em repetir os supostos benefícios desses dois estados hormonais. Sabemos que a terapia medicamentosa não erradica a doença, mas se o médico acredita que sim, então, a “recorrência” pode novamente ser a culpada de acordo com a teoria de Sampson. Será que dá pra ser mais perfeito do que isso?

Tendo a teoria de Sampson como base, a falha nas terapias medicamentosas ou cirúrgicas nunca são devidas a ineficácia do remédio ou do cirurgião, pois a pelve recebe nova carga da doença no próximo mês, e nos meses seguintes. Não é uma falha do sistema, é a natureza da doença.

Os médicos não precisam buscar outras respostas sobre seus métodos de tratamento, já que a falha está explicada e prevista, e não é culpa deles. No meu ponto de vista, a teoria de Sampson é na verdade a desculpa de Sampson na nossa era.

Com toda essa conversa, eu não estou culpando John Sampson por nada, e não quero que as pessoas pensem que eu o estou desrespeitando. Ele foi um excelente estudante de endometriose, e fez o melhor que conseguiu ao desenvolver essa teoria de origem com os fatos que tinha disponíveis na época. Se ele soubesse o que sabemos hoje, estou certo de que não teria apresentado a mesma teoria.

O problema está na capacidade humana de aceitar coisas do passado sem as questionar, e isso continua sendo um problema nos dia de hoje. Precisamos de mais gente questionando de forma saudável a autoridade.

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