quarta-feira, 31 de julho de 2013

MATTHEW ROSSER: MULHERES MAIS MAGRAS SÃO MAIS PROPENSAS A TER ENDO E AS MAIS CHEINHAS MENOS CHANCE DE TER A DOENÇA?

No artigo de hoje, uma tradução muito interessante de um estudo americano, mas com a visão do cientista inglês Matthew Rosser, parceiro exclusivo do A Endometriose e Eu no Brasil. Eu já estava com saudades de seus estudos, mas agora com a ajuda de voluntários na tradução, talvez, poderemos ler os artigos de Matthew mais frequentes por aqui. Desta vez, assim como ele, não irei me estender muito por aqui. Mas peço que leia com atenção o texto que fala sobre uma pesquisa que relaciona o índice de massa corporal (IMC) x endometriose. À priori, vocês podem achar esquisito o resultado, mas é só lerem com calma, todo o texto e vai ver o porquê do resultado do estudo que diz: mulheres com maior índice de massa corporal têm menos chance de ter endometriose. A explicação é muito mais complexa que o resultado. Como pode se sabemos que as células de gordura são alimentadas com o grande vilão da endometriose, o estrogênio? Múltiplos fatores são levados em conta, desde a primeira menstruação mais tardia e com menor fluxo em mulheres mais magras, até a Síndrome dos Ovários Policísticos, a SOP, mais comum em mulheres obesas.

E o grande lance no meu ponto de vista é o simples fato de mulheres que estão acima o peso produzirem mais testosterona, o hormônio masculino que pode inibir os implantes de endometriose. Mas as explicações não param por aí. Nas próximas semanas o blog vai passar a traduzir com exclusividade no Brasil outras teorias sobre a doença. Aqui, Matthew pincela sobre elas, mas iremos a fundo, já que eu conversei e muito com o pesquisador que vem revolucionando a teoria de Sampson. Quero saber qual foi sua conclusão! Abaixo, a tabela para quem quiser calcular seu IMC. O meu deu 23, segundo a tabela, normal. Mas porque será que eu tenho endo, se sempre fui magra? Ah, e devemos levar em conta que muitas mulheres com endo que estão obesas podem estar acima do peso por conta dos medicamentos e ou também por conta das aderências (artigo 1, artigo 2), o que era meu caso. Beijo carinhoso!!! Caroline Salazar

IMC = Peso (kg) / Altura 

Até 25 kg/ m²
Normais
de 25 a 30 kg/m²
Pesados (Sobrepeso)
de 30 a 35 kg/m²
Obesos leves (Grau I)
de 35 a 40 kg/m²
Obesos moderados (Grau II)
mais de 40 kg/m²
Obesos severos (Grau III)


A dimensão do problema:

Por Mathhew Rosser
Tradução: Jorge Francisco
Edição: Caroline Salazar

Ultimamente, existe um burburinho a respeito de um novo estudo sobre a endometriose. Esse aborda a relação entre o índice de massa corporal (IMC) e a endometriose. O estudo concluiu que as mulheres mais magras são mais sujeitas à ser portadora da doença. Isso significa que para diminuir o risco de endo, você deve ficar enchendo a cara de comida, ou mesmo esquecer a etiqueta e comer direto com as mãos sem usar talher? Definitivamente não. A maioria das agências de notícias que relataram esse estudo fez um trabalho muito decente ao explicar as descobertas, mas neste artigo iremos olhar para o estudo original e descobrir exatamente o que foi feito, o que foi descoberto e o que poderemos aprender com ele.

No entanto, antes de começar, sei que este estudo é controverso para alguns, por isso não tecerei comentários sobre o valor do estudo. Irei apenas dar um esclarecimento das descobertas e a minha interpretação, deixando que cada leitor tire as suas conclusões. Para começar, é sempre bom relembrar se no passado surgiu outro estudo semelhante. E na verdade surgiu, e fui eu que o escrevi antes, lá no ano obscuro de 2010. Então, a descoberta de que a mulher com baixo IMC é mais suscetível a sofrer de endo não é realmente uma novidade.

Então, no que difere este novo estudo do anterior? Para começar é maior, muito maior. O mesmo grupo de pesquisa nos Estados Unidos que conduziu em 2010 um estudo sobre 1,817 mulheres incluiu nesse estudo 5.504 mulheres portadoras da doença. E quanto mais mulheres forem incluídas em um estudo, maior a precisão dos resultados. De onde vieram todas essas mulheres então? Bom, nos Estados Unidos, desde 1989 que 116.430 enfermeiras de 14 estados diferentes preencheram questionários sobre sua saúde a cada dois anos. Toda essa informação junta forma o Nurse's Health Study II (Estudo sobre Saúde de Enfermeiras 2) – um vasto recurso de informação para pesquisadores que buscam ligações entre estilo de vida, fatores ambientais e o risco de todo o tipo de doenças.

Esse estudo corrente analisou todos os questionários de 1989 a 2011. Puxou a informação das mulheres diagnosticadas com endometriose e comparou com as mulheres que não têm a doença. O maior fator examinado foi o IMC, que é o resultado do peso dividido (em quilos) pela altura (em metros). Meu IMC está em torno de 20, que é classificado como normal, mas eu sou um leviatã desengonçado, portanto alguém com menos 30 centímetros teria um IMC de 28, e seria classificado como obeso. O IMC não é uma medição muito fiável da dimensão do corpo e não leva em conta a forma do mesmo. Felizmente o IMC não é o único fator que esses pesquisadores estavam procurando; para ter uma ideia melhor da forma do corpo eles levaram em conta as medidas racionais, como cintura/quadril, em especial, a circunferência da cintura.

Seja como for, chega de metodologia e vamos nos resultados. A descoberta central desse estudo foi que mulheres com IMC mais elevado seriam menos propensas a ser diagnosticadas com endometriose – de fato, mulheres com obesidade mórbida (IMC superior a 40) tinham menos 39% de chance de serem diagnosticadas com a doença que mulheres com IMC entre 18.5 e 22.4. O que os pesquisadores encontraram foi uma correlação inversa entre endometriose e IMC. O que isso significa é que enquanto o IMC sobe, o risco de endometriose desce. Abaixo podemos ver um gráfico desse estudo que mostra essa relação (a linha a preto é a importante, não se importe com a pontilhada).

Fonte: Endometriosis Update
O interessante nesse estudo foi a descoberta que essa associação (IMC e endometriose) era mais forte em mulheres que também eram inférteis. Porém, existe um detalhe mais importante a levar em conta antes disso. A idade média das mulheres na época do estudo estava próximo dos 35, então é muito provável que elas já tinham endometriose há anos. O IMC tende a aumentar com a idade, e mais importante que isso, mulheres com endometriose por muitos anos tomam medicamentos que causam o aumento de peso. Por isso, não seria melhor olhar para o IMC dessas mulheres quando eram mais novas? Sim, e foi exatamente isso que os pesquisadores fizeram – olharam para o IMC dessas mulheres quando tinham 18 anos. Abaixo, o gráfico com os resultados.
Fonte: Endometriosis Update


Como pode observar, é bastante semelhante, e apesar do fato de que o resultado foi levemente atenuado, as mulheres com obesidade mórbida ainda tinham 25% menos de chance de serem diagnosticadas com endometriose. Um detalhe importante aqui é não tirar a conclusão de que as mulheres com IMC maior não poderão ter endometriose. O estudo apenas sugere que é menos provável que tenham quando são mais novas. Por exemplo, se olharmos para os resultados desse estudo, as mulheres aos 21 anos tinham um taxa média de endometriose que é 1 em 10. Contudo, mulheres com IMC acima de 40, possuíam uma redução de 39%, equivalente a 0.6 em 10. Então, em mulheres com um IMC normal, a estimativa seria de que 10 em cada 100 teriam endometriose. Contudo nas mulheres com obesidade mórbida seria de 6 em cada 100.

Então, mas e os outros fatores que citamos acima estão sendo investigados? Os resultados do estudo mostraram que uma cintura maior também estaria associada a um risco menor, mas apenas para mulheres inférteis, e não haveria associação com a altura e a endometriose. A medida cintura/ quadril foi um dado mais difícil de obter, já que muitas mulheres não tinham registrado essa informação. Apesar de os pesquisadores descobrirem que as mulheres com a medida cintura/ quadril menor teriam um risco aumentado em três vezes de ter endo. Esse estudo foi baseado em dados de apenas oito mulheres. Portanto, não deveremos dar muita importância ao resultado neste momento até que possa ser verificado com mais mulheres.

Agora que sabemos os resultados, a próxima questão é, porque será que isso acontece? À primeira vista não faz sentido, já as células de gorduras produzem estrogênio. Portanto, mais células gordas iguais é mais estrogênio no corpo da mulher. Sendo que a endometriose é uma doença dependente do estrogênio, não deveriam as mulheres com mais gordura (e, portanto, maior IMC) ser mais suscetíveis à doença? De forma semelhante, ser magra quando criança está associada a ter a primeira menstruação mais tarde e menstruação com menor fluxo. No entanto, as mulheres com endo geralmente menstruam mais cedo, por isso essa também não faz sentido.

Existem algumas teorias para o porquê de estarmos vendo esses resultados. É sabido que as mulheres obesas são mais propensas a ter Síndrome de Ovário Policístico (SOP) e alguns pesquisadores pensam que SOP pode conferir alguma “proteção” contra endo devido a um número reduzido de ciclos menstruais e maiores níveis de androgênio (nota da editora: ou andrógeno é um dos hormônios secretados pelo córtex, dá origem ao desenvolvimento de características próprias do sexo masculino, como a testosterona, o mais conhecido), que pode suprimir lesões de endometriose. Não sabendo quais as mulheres que têm SOP, não podemos afirmar se esse é o caso. A ligação com o androgênio, no entanto, pode ser importante. Estudos sugerem que os níveis de androgênio são elevados em jovens e adultas, independentemente de terem SOP. Níveis mais elevados de androgênio nessas mulheres podem suprimir a endometriose e explicar porque assistimos um risco menor de endo no grupo com IMC mais elevado.

Os autores desse estudo também sugeriram que poderá existir um diagnóstico tendencioso para as mulheres obesas e com obesidade mórbida. Os cirurgiões não são muito favoráveis a realizar laparoscopias nessas mulheres pela dificuldade acrescida, e, portanto, é menos provável a confirmação de endometriose. Contudo, os autores ressalvam que se esse fosse o caso, não haveria uma tão grande associação entre a endo e o IMC em mulheres inférteis comparado com mulheres com sintoma de dor isoladamente. Existem muitos outros fatores que podem modificar o IMC, tais como medicamentos, estilo de vida, doenças comórbidas (nota da editora: doenças como diabetes, hipertensão, colesterol, apneia do sono, triglicerídeos aumentos dentre outras, ou seja, doenças que têm podem melhorar com o controle da obsesidade) e todos eles devem ser levados em conta quando se examinam relações entre a endometriose e o IMC, que tanto quanto posso avaliar esse estudo não levou muito em consideração.

Outra questão sobre esse estudo é sobre a população de onde as mulheres foram recolhidas. Todas as mulheres do estudo são enfermeiras com até 20 anos de profissão. Como a endometriose quando se apresenta com sintomatologia grave geralmente impede que a mulher mantenha o seu emprego a longo termo (especialmente um com tanta exigência física como a enfermagem), é provável que mulheres com sintomatologia de endometriose grave não tenham sido representadas na mesma proporção, o que pode distorcer o resultado a favor de mulheres com formas menos graves da doença, que seriam mais ativas fisicamente, e como tal, com menor IMC.

Claro que pode acontecer que o que quer que faça uma mulher suscetível à endometriose também faça com que tenha um IMC menor quando jovem. Um conjunto de indícios crescente sugere que a endometriose é algo com que já se nasce (nota da editora: este assunto será tema de outros artigos, de outra parceria exclusiva do blog), e que é hereditário. Portanto, pode ou não ser que fatores genéticos/ epigenéticos resultem em que uma mulher desenvolva endometriose, também afete o seu metabolismo antes que comece a tomar medicação hormonal. Infelizmente ainda persistem muitas questões que necessitam ser respondidas antes que possamos concluir alguma coisa mais definitiva, mas quando eventualmente encontrarmos as respostas, teremos um maior entendimento sobre essa doença paradoxal.

Esta é a minha interpretação do estudo corrente, e como sempre encorajo todos os que quiserem fazer as suas próprias pesquisas e retirar suas próprias conclusões.

Fonte: Endometriosis Update 

domingo, 28 de julho de 2013

"SUPERANDO A ENDO INFERTILIDADE": A DOR DO BETA NEGATIVO APÓS INSEMINAÇÕES E FERTILIZAÇÕES IN VITRO!!

imagem cedida por Free Digital Photos

Antes de abrir o artigo, anuncio a todos uma importante novidade no A Endometriose e Eu. Para que mais e mais casais consiga realizar o sonho de formar sua tão desejada família, o blog inicia parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa de Medicina Reprodutiva, que oferece tratamentos de fertilização de baixo-custo. Vou fazer um texto de apresentação do Instituto e todo mês vamos discorrer na coluna assuntos relevantes da área explicados por quem entende do assunto. O seu sonho, o seu desejo é o mesmo do nosso. E dentro de algumas semanas estaremos com outra parceria incrível para as endomulheres. Tudo que o blog quer é que todas tenham a tão sonhada qualidade de vida, que possam ter vida melhor e que realizem seus sonhos. Nosso trabalho é um trabalho sério e árduo. O A Endometriose e Eu foi criado para ser referência em endometriose no Brasil e no mundo. Aguarde! Eu achei fantástico o tema escolhido pela Juliana neste mês: quando a mulher recebe o negativo após realizar tratamentos para engravidar. Imagino como é difícil, mas é preciso continuar com a fé inabalável. A endometriose dá vários tipos de dores, mas algumas mulheres podem ter várias delas. Por isso, é preciso ser forte e manter sempre acesa a nossa fé, a nossa esperança. Se não somos por nós, quem será? Deus, apenas Ele é quem sabe de todas as coisas. E saiba que Ele não dá um fardo a seus filhos maior do que possam carregá-lo. E Ele é o único que de fato conhece todos os seus filhos aqui na Terra. Só Ele sabe quem é realmente cada um de nós. E eu acho que quem persevera sempre alcança. Porque tudo que vem fácil, vai fácil. O que é suado e muitas vezes sofrido é mais valorizado, sabe. Muitas vezes vem a tal pergunta: “Por que fulana conseguiu engravidar rápido e eu não?” Só que nós nunca sabemos o que o outro passou. E também não podemos querer o que é do outro. Isso é ensinamento bíblico.

Deus não é injusto, Ele é justíssimo. E o mais justo de todos e o único.  Não podemos cobiçar o que é dos outros. Tudo é dado por Deus no momento certo e na hora certa. Tudo é dado por merecimento de cada um, depois de suado aprendizado. Porque o que vem de graça não é valorizado. Assim é a vida de todos nós. Eu falo isso porque passei por isso noutras circunstâncias. Não era de gravidez, mas de trabalho (esse sempre foi meu sonho!). Para quem continua a errar, é preciso refletir e ver como fazer diferente e da maneira correta. São atitudes bobas do nosso cotidiano que nos afastam de nossos sonhos. Temos de prestar atenção até em nossos atos diários e até mesmo nas nossas palavras, e principalmente, em nossos pensamentos. Precisamos ser mais amoroso com o próximo e menos amargo. Porque a amargura alimenta nossa alma e contamina tudo, desde nossas atitudes até mesmo o que falamos, como agimos. E você acha que Deus estará de acordo com uma pessoa dessas?  Não, claro que não.

O texto também nos ensina a não menosprezar o sofrimento alheio. Porque pimenta nos olhos dos outros é refresco, já diz o ditado. Se você nunca passou por determinada situação, das duas uma: ou se solidariza, ou então, evite emitir opinião. É melhor ficar quieto do que magoar o outro. Na maioria das vezes, apenas um abraço é suficiente. Não faça com o próximo o que não desejas que faça com você. Toda vez que alguém for responder ao outro, coloque-se em seu lugar e finjas que a resposta é para você mesmo. Se a resposta te agradou vá em frente e passe ao seu destinatário. Se não a agradou, então, apague escreva novamente. Se alguém te atirar pedras, devolva-a com amor. Não entre no mau humor e na amargura de ninguém. Porque só o amor salva e só ele vencerá. Uma pessoa até pode passar a vida toda assim, mas vai chegar uma hora (nem que seja no fim), que ela vai ver que estava errada e terá de voltar atrás e pedir perdão! Precisamos não apenas ler os ensinamentos de Jesus, mas é preciso executá-los. Exercê-los é mais importante o que apenas sabê-los ou apenas lê-los. Espero que este texto transforme todos numa pessoa melhor e com mais coração. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

"Aos poucos venho contando minha história e alguns percalços que passei até receber meu tão sonhado positivo. Afinal, a coluna tem o objetivo de passar fé e otimismo às endomulheres que sonham com a maternidade. Compartilhar histórias, dar dicas e também partilhar o que escuto das minhas pacientes que estão em busca deste mesmo sonho serão alguns temas dos meus artigos. E hoje resolvi escrever sobre uma frase que escutei de uma paciente. Infelizmente hoje em dia, cada vez mais, temos pessoas ao nosso redor enfrentando dificuldade para engravidar, nem sempre relacionada à endometriose, embora na maioria das vezes sim!  É muito triste saber que o número de mulheres que enfrentam este sofrimento está crescendo cada dia mais. No meu primeiro artigo falei o quanto é dolorido um negativo. Já discorremos também a da dor emocional de quem quer ter filhos, respeito de como  é dolorido a incerteza de um tratamento e mais dolorido ainda é a incerteza de que um dia chegará o nosso dia de ser mãe. Quando atendo gestantes que engravidaram após muita dificuldade, sempre questiono o lado emocional delas. E isso nos torna ainda mais próxima uma da outra, pois é aí que a gente se identifica muito. Mas como uma paciente em especial, escutei algo que não vivenciei e que me fez refletir muito. Por isso resolvi dividir com vocês, pois alguma das leitoras ou muitas delas pode estar justamente vivenciando esta dor: o negativo após um tratamento de fertilidade seja a inseminação e ou fertilização in vitro.

Deixo explícito que dói sim e mito. Por isso, como falei no artigo anterior, é muito importante fechar nossa boca. Ultimamente tenho tido muitas mulheres queridas e bem próximas que estão enfrentaram o negativo depois de uma fertilização. Conversando com essa paciente que vou colocar o nome fictício de Margarida senti pela primeira vez essa dor como se fosse minha. Segundo Margarida, ela já sofreu todas as etapas de um “negativo”, mas que sua maior dor foi receber o negativo depois de uma fertilização. Aí, questionei o porquê e ela respondeu: “Quando engravidamos naturalmente sabemos que se der negativo podemos tentar de outra forma, como os tratamentos. Assim teremos muitas outras formas de chegar ao positivo. E quando a gente se depara com um resultado negativo de uma fertilização, desabamos, nosso chão cai e nosso mundo desaba, pois mexe também nossa fé, que fica bem balançada, já que sabemos que a fertilização é a ultima chance de alcançarmos nosso sonho. Não há nada além, na parte médica que podemos recorrer.”
  
Nossa, depois dessa conversa refleti e entendi que eu sofri sim para ter minha Mariana, mas que outras mulheres sofrem ainda mais. Imagino que muitas estão nessa situação, outras já enfrentaram um negativo, mas tantas outras já se confrontaram com vários negativos de uma fertilização e muitas outras mulheres ainda irão passar. De fato a dor do negativo após um tratamento é grande, pode ser desesperadora, já que é a última esperança de uma mulher conceber seu filho com seu gene. O tratamento em si já é um sofrimento, daí tem a expectativa e a espera do beta, e se vem um negativo? Todo esse processo mexe muito com nosso emocional, inclusive, abala nossa fé, mas precisamos acreditar que somos filhas de um Deus do impossível, e que para Ele, nada, mas nada é impossível de acontecer. Não deve ser fácil para ninguém! Tenho amigas que se depararam com negativos de FIV e que falavam que ia desistir e eu sempre com uma palavra positiva, mas desde essa conversa com a Margarida passei a entender ainda mais todo estado de uma mulher. Levará um tempo para absorver a dor e se reerguer! 


Mas decidi contar essa história pra dizer que esta minha paciente, também é portadora de endometriose. Nossa endoirmã sofreu e sofreu muito. Ela se deparou com alguns negativos após algumas fertilizações in vitro, mas que mesmo sem força, mesmo sem esperança, e com sua fé abalada, ela acendeu o pouco que ainda restava de sua fé, acrescentou perseverança e buscou no fundo de seu coração a esperança. Ela não desistiu e é muito emocionada que falo que ela está grávida de um casal de gêmeos e sua barriga esta mais linda do que nunca. Então, queridas endoirmãs que já sofreram com negativo ou com negativos dos tratamentos de fertilização, não desistam nunca, não desanimem nunca, pois pode não acontecer de primeira, nem se segunda, nem da terceira tentativa, mas Deus nunca se esquece de quem persevera de quem cai e vai levantando conforme os tombos. As feridas nos ensinam a ficar ainda mais fortes e a lutar com bravura para realizar nosso sonho. A fertilização com médicos competentes aumenta significativamente as chances de chegar ao seu sonho. E hoje a medicina esta cada vez mais avançada e procurando uma clinica digna com profissionais competentes, humanos, com certeza seu sonho se transformará em realidade. Força minhas amigas. Este texto é para que fiquem ainda mais fortes após um negativo de FIV, mas também para entenderem o sofrimento de quem nunca passou por este obstáculo. Mas minha mensagem principal para cada uma que ler este texto é: não desista! Porque para quem desiste poderá perder a chance de escutar um “sim” e que tudo teve um tudo teve um por que e mais ainda que tudo valeu a pena, inclusive, as lágrimas que fora, derramadas. Desistir jamais, fé e perseverança sempre!!! Beijo carinhoso! Juliana Sinelli

quinta-feira, 25 de julho de 2013

SÍNDROME DOS OVÁRIOS REMANESCENTES: A CAUSA DA DOR E DA VOLTA DA ENDO PARA AQUELAS QUE NÃO TEM OS OVÁRIOS!!




Já faz tempo que quero colocar este artigo. Eu vejo muitas mulheres que fazem a retirada de todos os órgãos reprodutores, inclusive, dos ovários queixando-se de muita dor. Piração? Loucura? Ela está mentindo ou inventando dores? Ela é preguiçosa? É a Maria das Dores? Nãããããooo!!!! Eu fico louca com essas mentes ignorantes. Isso pode ser possível, sim. E não é invenção de mulher preguiçosa. É a Síndrome do Ovário Remanescente. Aliás, muitos médicos não acreditam nisso, por isso fiz questão da tradução deste artigo do médico americano, o doutor Ken Sinervo, do CEC, Center for Endo, o centro americano fundado há mais de duas décadas,  o qual fez uma homenagem a mim (como anjo endo) e ao blog, após  premiação do TopBlog Brasil 2012. Eu acompanho alguns casos bem de perto e este texto pode elucidar bastante. Tem dias que que essas mulheres não conseguem nem andar e muito menos levantar da cama de tanta dor. Muitas ainda são fortes e tentam fazer as tarefas da casa, como almoço, limpeza, lavar e passar roupas. Mas como está descrito abaixo, realizar tarefas simples do cotidiano que geralmente é prazerosa para quem as faz, torna-se uma tortura, um pesadelo diário inexecutável. Daí, a simples pergunta: “Mas você não retirou tudo? Por que tanta dor?” Para um leigo em endometriose, para quem não entende nada do assunto, pode parecer que a mulher está inventando mesmo, mas não está. Mas sei que muitos médicos afirmam isso também. Olha se fosse comigo, eu juro, não responderia pela minha atitude. Até porque já falamos aqui que a endo é uma das 10 doenças mais dolorosas que existe. 

Agora assumir que ele (o médico) “fez cagada“ e não retirou a parte necessária para não provocar essa síndrome, eles não assumem. Não adianta retirar todos os órgão se não retirarem todos os órgãos, e em alguns casos de aderência dos ovaries na parede, é preciso retirar essa parte tambem. Sim, a doença pode voltar nesse caso, mesmo sem os ovários. Ficam colocando a culpa na coitada da mulher que, geralmente, nesses casos é desacreditada por todos, da família aos amigos, e até desses que se dizem especialistas. Por isso, quando for preciso fazer a cirurgia, tem de saber tudo sobre a vida acadêmica e profissional do médico. Para isso existe o currículo lattes, que é público e todo mundo pode ver. E quando a mulher pensa que retirou os dois ovários e um belo dia faz um simples ultrassom e descobre que um de seus ovários está lá. Um absurdo, mas acontece muito isso. Bom, vou deixar com quem realmente entende do assunto, para vocês descobrirem que um dos motives que a endo é tão enigmática. E lembre-se: escolher bem quem vai te operar, que além de conhecer a doença, é preciso muito conhecimento e muita técnica em laparoscopia, é fundamental para uma endomulher ter a tão sonhada qualidade de vida.A tradução deste artigo foi autorizada pela minha querida H.R.G., a mesma que prestou a homenagem a nós no facebook do centro, e que trabalha com doutor Sinervo, no CEC. Não se esqueça de preencher nossa Ficha de Inscrição para a Marcha de Um Milhão de Mulheres para Endometriose (a Million Women March for Endometriosis), a primeira marcha internacional de conscientização, um evento inédito nunca feito antes para nehuma doença, idealizado pelos Estados Unidos. Até o momento, 23 países saíram ás ruas simultaneamente no dia 13 de março de 2014. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar


Síndrome do Ovário Remanescente
Ou quando você removeu seus ovários e descobriu que tem um deles no exame de ultrassom

Por doutor Ken Sinervo, do CEC
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar

Outra potencial fonte de dor na mulher que teve uma histerectomia com remoção de um ou dois ovários, é uma condição chamada síndrome de ovário remanescente. Tipicamente, a paciente apresenta dor no quadrante inferior, de um lado ou do outro. A dor pode ser bastante forte. Pode desaparecer espontaneamente, ser persistente ou ocorrer com uma periodicidade mensal.

A chave para o diagnóstico é ver uma massa em ultrassom, TAC  (nota da editora: tomografia axial computadorizada) ou ressonância magnética. Tratando-se de um cisto, estará localizado na região onde se encontravam os ovários. As pacientes frequentemente dirão que não podem ter cisto ou tecido do ovário, já que estes foram removidos. O médico frequentemente concordará com a paciente. Quando uma massa consistente com um cisto de ovário é detectada após uma ooforectomia (remoção do ovário), certos testes podem confirmar a sua natureza ovárica. Se está fazendo terapia hormonal de substituição, pode parar durante um mês e se não tiver afrontamentos e outros sintomas da menopausa, isso sugere que o cisto tem natureza ovariana.

Também pode testar os seus níveis de estrogênio quando não estiver fazendo a terapia de substituição hormonal (tipicamente inferior a 30 pg/mL se tiver tecido ovárico presente). Bem como uma análise ao sangue chamada FSH (Hormônio de Estimulação Folicular) que apresentará também valores mais baixos do que o normal para uma mulher em menopausa. O resultado da FSH  (nota da editora: hormônio produzido pela glândula pituitária que fica no cérebro, e é o hormônio responsável pela ovulação) geralmente será maior que 30 se estiver em menopausa (o seu cérebro estará tentando simular a presença dos ovários, mas não verifica um aumento no estrogênio que acontece quando os ovários estão presentes. Então produz mais FSH para estimular os ovários a produzir mais estrogênio). Quando a mulher é jovem e os seus ovários estão intactos e a fertilização é viável, os níveis de FSH são geralmente inferiores a 10. Então, uma mulher que tenha tido uma histerectomia com remoção de ambos os ovários deverá ter um resultado de FSH superior a 30. Se não for o caso, então provavelmente terá remanescência do ovário.

Como ocorre então essa remanescência do ovário? Não existe crescimento de novo tecido ovariano. Ovário remanescente ocorre quando o ovário é dissecado abruptamente da parede pélvica quando está grudado ou fez uma cicatriz na referida da parede. Essa cicatriz é geralmente resultado da endometriose que causa inflamação, e o resultado dessas inflamações é a formação de aderências. Essas aderências frequentemente podem ser bastante densas e fica difícil separar o ovário da parede pélvica ou do intestino que pode ter cicatriz também.

Frequentemente o ginecologista usará instrumentos ou as próprias mãos se o procedimento for realizado com recurso a uma incisão grande, mas estarão deixando para trás pequenas porções do ovário na parede pélvica. Estes pequenos pedaços de tecido ovariano podem gerar o seu próprio suprimento de sangue e reagir como um ovário normal perante a estimulação por FSH, produzindo hormônios e gerando cistos ovarianos. A prevenção da ocorrência do ovário remanescente acontece com a remoção cuidadosa do tecido da parede pélvica também, já que geralmente existe aí endometriose, e a pretensão é minimizar a recorrência da doença. A maioria dos médicos não faz isso, e o resultado não é apenas o ovário remanescente, mas também endometriose nessa zona. A dor pélvica regressará meses ou até mesmo anos depois.

Já tratamos de uma centena de mulheres com ovários remanescentes. Todos foram controlados com sucesso com recurso a laparoscopia sem ser verificada a recorrência do ovário remanescente. Nunca tivemos um ovário remanescente em uma paciente em quem tenhamos removido um ovário, ou em histerectomia com remoção de um ou ambos os ovários. Tivemos no entanto uma paciente que teve uma remanescência mas em uma localização diferente, já que o tecido ovariano foi deixado em diferentes zonas da pelve e apenas um dos remanescentes estava ativo durante a cirurgia inicial.

A cirurgia para ovário remanescente pode ser muito exigente e se o médico não realizou algum destes procedimentos, existe um risco acrescido de complicações para a paciente, e aumenta a probabilidade de existência de ovário remanescente. Tivemos apenas uma paciente que necessitou de duas cirurgias adicionais para remoção dos restos antes de ter a cirurgia no CEC para finalmente os remover na totalidade. A razão pela qual estas cirurgias são difíceis tem a ver com o fato de que podem existir muitas cicatrizes e aderências que tornam a dissecação complicada, e o intestino pode também ter aderências aos restos bastante densas. Muitos ginecologistas serão relutantes em dissecar essas aderências densas pelo risco de lesão no intestino.

Fazemos dissecações delicadas no intestino de forma rotineira todas as semanas devido à natureza severa dos casos de endometriose que nos chegam, incluindo pacientes em grau IV de endometriose envolvendo o intestino. Esta competência única permite que confortavelmente restauremos a anatomia normal e dissequemos os restos do intestino.
Outro fator que faz com que esta cirurgia seja difícil para o cirurgião comum é que os restos geralmente estão nas cicatrizes da parede pélvica, e o ureter e os grandes vasos pélvicos passam nessa área. Muitos ginecologistas são relutantes em tratar essa área por receio de causar lesão a essas estruturas. A endometriose frequentemente afeta a região abaixo do ovário ou a parede pélvica (na verdade 30 a 40% das pacientes possuem endo nesses locais). Fazemos a excisão da endo nesses locais diariamente, e de forma rotineira dissecamos o ureter e os vasos pélvicos para que a doença possa ser removida com sucesso. Essa prática de operar no espaço retroperitoneal (área ocupada pelos ureteres e pelos vasos pélvicos) permite-nos dissecar confortavelmente os restos ováricos dessas estruturas com risco mínimo.

Se você tem dor pélvica recorrente após ter tido uma histerectomia para a sua endometriose, ou outras doenças em que os ovários possam ter sofrido lesões e aderido a outras estruturas, valerá o esforço fazer um ultrassom e análises de sangue (níveis de estrogênio e FSH) para despistar a existência de restos de tecido ovariano. Se tem histórico de endometriose, dor recorrente e não existe a possibilidade da existência de restos, poderá ser devido a endometriose persistente devido a um tratamento menos correto quando realizou a sua histerectomia.

Fonte: CEC

terça-feira, 23 de julho de 2013

"A VIDA DE UM ENDO MARIDO": O QUE FAZER QUANDO VOCÊ É MAL ATENDIDO POR MÉDICOS NAS UNIDADES DE SAÚDE?



Em “A Vida de um Endo marido”, Alexandre aborda um tema de extrema importância para nós, endo mulheres, e para todos os seres humanos do mundo: o atendimento nas unidades de saúde, pode ser em hospitais, postos de saúde, ambulatório, enfim, em qualquer lugar onde há médico x paciente. Muitas vezes pensamos que a falta de respeito acontece apenas no Brasil, ou em países onde o doutor na frente do nome significa status. Bom, em primeiro lugar deixo bem claro que a maioria desses médicos que se acham com o dr. na frente do nome, nem deveria ter essa nomenclatura, visto que doutor é qualquer pessoa que cursa o doutorado. Independente da área, e não apenas para quem veste branco ou cursa direito. Faz a faculdade, depois a pós ou o mestrado, e só depois vem o doutorado. Eu acho o fim da picada muitas coisas erradas que acontecem por aqui, inclusive, isso. Por isso, muitas pessoas que fazem faculdade da área de saúde já saem da faculdade arrogantes. Daí, quando vão clinicar acontece a situação que o Alexandre descreve abaixo: o medico “se acha” e não escuta o paciente, daí não sabe indicar o próximo passo para resolver a situação. Resultado: deixa o paciente e o acompanhante dele nervosos. 

Outra questão é a falta de educação do ser humano. Deixo bem claro que ter educação não tem nada a ver com a condição sócio-econômica da pessoa. Educação vem de berço, vem de família e não tem a ver se a pessoa tem grana ou não. Eu mesma conheço pessoas ricas, abastardas no dinheiro que não tem nenhum pingo de educação e ainda são amargas e rancorosas. Assim como, conheço pessoas que não têm dinheiro, mas que têm uma educação exemplar. Afinal, nós não temos educação nas escolas. Ou a pessoa já vai com ela, ou então, baubau, não tem e ainda corre o risco de ficar mais mal educada do que já é. Outro fato muito interessante ressaltada pelo nosso endo marido, é a questão de saber seus direitos. A maioria das pessoas não sabe que todos nós temos direitos. Alguns anos atrás, numa época dura onde não tínhamos convênio, minha mãe estava com sua enxaqueca explodindo e eu e minha irmã do meio a levamos ao hospital. Fomos para um hospital que sempre íamos pelo nosso convênio, que é considerado de luxo. As pessoas pareciam que estavam todas mal-humoradas. Tá de mal-humor? Enfia a cabeça na terra, na água, mas não precisa contaminar o mundo.

Na época, eu ainda não sabia o que eu tinha e como não tinha operado ainda estava maluca. Ou seja, com endometriose e aderências, eu era bem grossa e um tanto louca. Hoje eu sei diferenciar isso, mas na época ainda não sabia. E num dos setores fomos mal tratadas e no fim pagamos uma fortuna. Na época eu dava uns surtos, pois tinha os focos e meus órgãos estavam todos embolados dentro de mim. Após minha primeira cirurgia em 2010, eles foram diminuindos e cessaram após a segunda, em 2012. Hoje não tenho mais esses surtos, e sei bem como é difícil para uma mulher com endo controlar isso em qualquer situação. Até mesmo nas brigas com marido, namorado, amigos, familiares, etc. A endo é mais perigosa que imaginamos. Bem, voltando ao assunto, ao sermos mal tratadas, já que gritar e espernear é perder toda a razão, eu peguei um formulário de reclamação e preenchi, assi como fal Alexandre. Relatei tudo, tudo mesmo e como coloquei lá particular, ligaram no mesmo dia para falar comigo. Numa outra oportunidade, já com convênio tivemos a mesma experiência. Preenchi outro formulário. E, desta vez, para minha surpresa, a direção do hospital não deu bola, porque coloquei na ficha “convênio”, no meu caso, um seguro saúde. Mas o importante é a pessoa saber que tem direito de reclamar e reclamar com classe. Alexandre nos dá essa dica. Beijo com carinho!! Caroline Salazar

Atendimento em unidades de saúde

Por Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar


Hoje vou abordar uma questão muito importante, causadora de muita lágrima e humilhação, da qual a minha esposa já foi alvo. Não é meu apanágio reclamar apenas, sempre gosto de apresentar uma ou mais possíveis soluções.

Vou começar por descrever um caso recente. Recentemente acompanhei minha esposa em uma consulta de urgência, pois ela estava com dor insuportável, os analgésicos mais fortes não estavam surtindo efeito, e inclusive, tinha algumas perdas de sangue. Chegamos no hospital em um dia meio complicado, estava havendo uma afluência pouco normal. Vou já esclarecendo que não sendo rico, nem perto disso, o hospital em que fomos é particular e dos mais bem cotados no país. O que permite nosso atendimento nesse hospital é o sistema de saúde de minha esposa, e tendo em conta a qualidade de atendimento que recebemos até esse dia. Nunca nada nos tinha feito imaginar  que um dia fosse diferente. Como as aparências iludem...

Entramos, fizemos a inscrição e ficamos esperando. Eu estava meio ansioso e por isso fui comprar uma revista. Depois que cheguei ela estava com fome e sede, aí fui comprar algo, e quando cheguei ela estava saindo da consulta com lágrimas nos olhos. O que foi, o que aconteceu... o mesmo de sempre. A médica tinha olhado pra ela, nem quis escutar os sintomas, falou mesmo que estava interessada apenas em uma parte (além de tudo estava um pouco gripada, e foi aí que aquela anta focou seu interesse), desvalorizando tudo o resto e ainda falando “Mas você até que está com boa cara”.

Meu sangue ferveu na hora, minha vontade foi de mostrar minhas aptidões de dentista para ela e remodelar o piano daquela jumenta (nota: sou mecatrônico). Mostrei minha indignidade, inclusive reclamando alto. Olhei para ela e pensei: “Isso não vai resolver é nada, o problema fica igual e minha esposa nervosa já está.”

E detalhe: foi nesse mesmo hospital onde ela foi acompanhada e operada no piso superior. Fui lá, falei com a assistente do médico que operou minha esposa e pouco tempo depois ela voltou dizendo que ele estava e que estava livre, sem consulta. E se necessário ele nos receberia. Desci, falei o que aconteceu, e enquanto ela foi fazer exames subi novamente e falei com o médico ali mesmo no corredor. Expliquei por alto o que tinha acontecido, ele revirou os olhos em sinal de desaprovação meio inconformado pela conduta da sua colega. Ele diferentemente da outra, escutou os sintomas e muito calmamente falou: “Olha, o que está me descrevendo não é mais endo. Nós estamos acompanhando o progresso dela, e essa sintomatologia corresponde a um quadro neurológico. É para lá que vocês devem ir. Infelizmente eu não tenho mais influência sobre o percurso dela aqui no hospital. A questão do sangramento, poderá ser uma pequena fissura. Tem um especialista aqui da minha confiança que eu gostaria que observasse ela.” Como estava demorando, fomos andando e não é que o tal especialista vinha chegando? Na hora ele nos apresentou, falou que gostaria que a minha esposa fosse acompanhada por ele, e de imediato a disponibilidade dele foi revelada. Era só marcar a consulta. Que diferença. Agradeci aos dois e voltei para junto da minha esposa que estava sendo medicada.

As análises não revelaram nada, claro. A gênia pediu análise para coisas que não tinham nada a ver. A única coisa boa que resultou daquela ida ao hospital foi algo que eu poderia ter resolvido pelo telefone com esse médico humano e profissional. Mas saímos de lá com a consulta marcada, e isso foi muito importante. E posso falar que no momento em que estou escrevendo isso, ela já iniciou o acompanhamento com esse médico, cujo profissionalismo não parece ficar atrás do que referi antes.

Finalizada a descrição do episódio, vamos ao que interessa. Como reagir a situações dessas com resultados positivos, evitando chutar o pau da barraca. Lembre-se, tem outras pessoas doentes lá também, algumas sofrendo horrores, física e psicológicas. Evite criar mais problemas para eles, afinal, eles não têm culpa do mau trabalho de alguém que é formado em medicina, mas que de médico não tem nada. 

Na consulta: Se o médico está desvalorizando o que você fala, mas de um jeito que você percebe que não está nem aí, ele quer é despachar os pacientes receitando alguma coisa banal, confronte esse médico, mas calmamente.

Primeiro: Você tem o direito de ser esclarecido, mesmo que não tenha muita instrução. O médico não pode chegar de nariz empinado e só lidar com gente com a mesma formação que ele. A sua obrigação é tratar TODOS iguais e com respeito. Do peão ao deputado, todos estão abrangidos pelo seu juramento hipocrático, portanto fazer discriminação não é aceitável.
Segundo: médico que atende pessoas precisa escutar o paciente. Apenas se a pessoa se mostrar confusa, o médico poderá ultrapassar o que ele diz e seguir um diagnóstico com procedimento diferente. Mas ainda assim falando com o paciente. Quem faz diagnóstico sem falar com o paciente é veterinário, e para ter esse comportamento, o médico que o faça quando estiver atendendo a mãe dele. Se até bicho merece respeito, imagine gente. Não é aceitável que clínico tenha esse tipo de atitude.

Terceiro: faça das tripas coração, mas nunca podemos perder a calma. Cabeça fria pensa bem, cabeça quente só cria mais problemas. Aqui é muito importante que o companheiro esteja acompanhando a mulher. Geralmente, um acaba acalmando o outro e a coisa esfria. É de cabeça fria que você resolve os problemas.

Quarto: saiba exatamente os seus direitos. Um direito seu é um dever do clínico, e vice-versa. Por pior profissional que ele seja, a lei garante o direito à dignidade. E não ganhando nada em xingar o médico, ainda pode conseguir alguns problemas legais. Conhecimento é poder gente. Quando a gente sabe exatamente o que pode fazer para reagir a uma situação adversa, é mais fácil reagir a ela. A cabeça só esquenta geralmente por frustração. Não se deixe encurralar nisso. Reaja civilizadamente e mostre para o clínico arrogante que você sabe exatamente quais são os deveres dele, e como fazer para denunciar comportamentos errados e/ou negligentes da parte dele.

Quinto: não quebre o barraco com o pessoal do atendimento. Recepcionista não tem culpa do que o clínico faz de errado. Pelo amor de Deus, é só uma pessoa que nem você e eu que está lá trabalhando, ganhando seu sustento. Por parecer o alvo mais fácil não descarregue sua fúria na pobre da recepcionista. Ela é o alvo mais fácil, o clínico tá lá no consultório rindo se for preciso, e a infeliz está levando bronca de uma coisa que ela não fez. Reclame com quem de direito, não complique o dia de alguém que saindo de lá vai ter que pegar filho na escola, fazer a janta, e todas as outras coisas que todos nós temos que fazer. Sabe o que acontece quando você destroi a cabeçinha da recepcionista? O fígado dela sofre, a paciência para aguentar o menino dela diminui (ainda dá umas palmadas no inocente), chega em casa queima o arroz com feijão, e de quebra o marido dela fica na mão porque ela tá com dor de cabeça. O culpado: clínico incompetente. Os lesados: todo o mundo que não tem culpa.

Então, simples procedimentos para evitar isso: durante a consulta, veja se o médico está atento ao seu caso. Se não estiver, tente ajudá-lo. Por vezes estão cansados de muitas horas trabalhando, podem estar com problemas pessoais que todo o mundo tem... mas veja bem se ele é um profissional ou não.
Se a conclusão for de que não é profissional, que não está nem aí, confronte ele. Exija um atendimento decente. Existem 3 possibilidades: ou está com algum problema, ou ele não domina o assunto e não quer assumir, ou não está nem aí. Descartemos a primeira e vamos na segunda. Se não domina o assunto, o procedimento correto é indicar um colega. Ele não precisa falar que não está à vontade nessa matéria, e além disso é humano. Só Deus sabe tudo. Mas segurar você na consulta dele e não dar resposta, isso é inaceitável. Não estar nem aí para o seu problema... piorou.

Se não conseguir resultados positivos na consulta, quando sair peça o livro de reclamações. Reclame por escrito, se possível exigindo a devolução do seu dinheiro. Se precisar peça ajuda para alguém da sua confiança. Relate todo o episódio, descreva tudo com a maior honestidade e clareza. Segure o rancor, não deixe que raiva transpareça no que escreve. Não sei como as coisas funcionam no Brasil, mas em Portugal isso tem algum impacto. A sua queixa será analisada e um dia acaba recebendo um relatório na sua caixa postal.

Você recomenda o trabalho de um bom profissional? Gosta que seus amigos e familiares possam ser bem servidos? Por que não mostrar o mau trabalho de um mau profissional? Evite que as pessoas caiam no mesmo açougueiro que você. Se alguém tivesse feito isso antes, você não estaria passando por isso. Como paciente você paga o mesmo pela consulta de um e do outro. Exija seus direitos e ajude a purgar alguns vermes que andam por aí, tendo vidões e ainda esnobando o pobre. Pobre tem direitos, viu? Não precisa ficar aí denegrindo a imagem do outro na praça pública, aliás nem faça isso. Mas se alguém perguntar, se a conversa puxar para esse lado, fale sua opinião, do seu caso, mas de forma educada e objetiva. Mantenha sua cabeça erguida e sua dignidade. Você pode ser pobre, mas educação a gente pega em casa, não na escola. Educação e formação são duas coisas bem diferentes no dicionário português. Deus acompanhe.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA", DOUTOR HÉLIO SATO!!!

Desculpe meu sumiço, mas semana passada foi uma correria sem fim! Eu tenho trabalhado muito, na assessoria e aqui no blog. Tenho dormido aproximadamente 4 horas por noite, mas a semana passada foi pauleira por conta da Francal. Andar naquele pavilhão do Anhembi correndo de um lado ao outro, quatro dias direto, das 10h às 20h, com três clientes, até para uma pessoa sã é uma loucura, imagine para quem tem endometriose?!! Mas como para mim a palavra fé e superação estão acima de qualquer coisa, eu consegui e, inclusive, até mesmo pautar um dos jornais da TV Globo para dois, dos três clientes da assessoria que participavam da feira! Como meu ritual diário, eu já levanto e faço uma oração e peço para Deus estar sempre comigo, me abençoar em mais um dia sagrado e também para me proteger de todo mal, e que toda energia negativa que tenta chegar até mim, se transforma em amor! Chegava moída, com dores nas pernas, meus músculos latejavam. Eu tomava banho, comia algo e já ia para a cama colocar as pernas suspensas em três travesseiros.

Por isso, eu não aguentava nem chegar perto do computador. Nem mesmo no blog. E a coluna do doutor Hélio Sato deu uma atrasadinha. Doeu tanto meu coração deixar de ver meu filhote, mas eu sabia que ele estava em ótimas mãos: na de vocês! Por isso, eu fiquei tanto tempo sem postar! Esse truque de colocar as pernas para cima, eu faço há quase 4 anos. Todos os dias eu durmo com as pernas sob dois travesseiros. Quando a coisa tá feia, eu coloco mais um. E o melhor de trabalhar nestas feiras é reencontrar minhas amigas jornalistas e, claro, com isso acabo divulgando o blog. O assunto desta vez foi a Marcha de Um Milhão de Mulheres para Endometriose que se realizará no dia 13 de março de 2014, por enquanto em 22 países. Atenção, voluntários: preencha a ficha de inscrição. Homens, mulheres com ou sem endo, idosos e quem mais quiser será uma honra tê-lo conosco. Afinal, para ter endometriose não tem idade, basta a mulher menstruar e pronto está sujeita a ter essa danada. A Ligia, que reencontrei lá, ficou superempolgada e disse que vai nos ajudar a pautar o evento na mídia. Bom, esse também é um dos meus trabalhos. Até levei alguns panfletos para ela deixar em Campinas, interior de São Paulo, onde mora. Como ela tem parentes médicos, vai deixar nos consultórios deles também.  

Bom, o papo está bom, mas vamos deixar a palavra com quem entende do assunto, nosso especialista o doutor Hélio Sato. Hoje ele vai sanar a dúvida da leitora Lilian Ribeiro dos Santos, de Manaus, no Amazonas. Lilian tem 47 anos e além de ter endometriose, tem útero miomatoso e já retirou nódulos benignos de uma das mamas. Indicaram um tratamento com anticoncepcional injetável e ela esta confusa quanto à terapia. A outra questão vai abordar o anticoncepcional Elani. Eu nunca o tomei, mas sei que muitas endomulheres fazem uso dele para tratar a endometriose. Ela preferiu apenas se identificar com as iniciais de seu nome V.M, e não informou a cidade e estado. Eu até sugiro para as mais tímidas que coloquem as iniciais, mas como uma jornalista perfeccionista eu prefiro que informe a cidade e o estado para situar o leitor. Quem quiser participar da coluna deixe sua pergunta aqui ou escreva para carolinesalazar7@gmail.com e coloque o título “Com a palavra, o Especialista”. Assim é mais fácil identificá-lo e separá-lo ao chegar. Ah, e aproveito para pedir paciência com quem envia email para mim. Sei que todas têm urgência, muitas replicam os emails, mas a demanda está muito, muito grande e eu estou sozinha para responder emails, comentários, escrever artigos, editar os textos dos colaboradores e ainda preparar a marcha.. ufa! Por isso, eu só consigo dormir 4 horas no máximo por noite. Tou levando bronca por isso, mas por enquanto é o que dá. Conto com a compreensão de todas!! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

- Descobri ser portadora de endometriose após uma laparoscopia aos 43 anos. Hoje tenho 47, útero miomatoso, já retirei três nódulos benignos da mama esquerda (Fibroadenoma) e nunca engravidei.  Tenho sentido sintomas da pré-menopausa (fogachos, insônia etc). Receitaram-me o contraceptivo injetável, contracept, para interromper a menstruação, mas isso não aconteceu. Continuo menstruando. Estou confusa. Com os problemas que relatei qual o melhor tratamento? Qual melhor caminho a seguir? Lilian Ribeiro dos Santos, Manaus, Amazonas

Doutor Hélio Sato: É uma situação que cabe várias alternativas:

As opções conservadoras:

- Manter o tratamento hormonal, porém, pode manter o sangramento uterino, via de regra, irregular, com baixo volume, porém, duradouro dada a presença dos miomas, principalmente, se algum é submucoso.

- Fazer uma histeroscopia para retirar algum mioma submucoso e fazer a limpeza do endométrio, a camada funcional do útero, chamado de ablação de endométrio. E, posteriormente, manter alguma medicação hormonal (anticoncepcional hormonal, endoceptivo, injetável, etc...);

Ou aguardar a interrupção da produção dos hormônios sexuais na menopausa, assim, cessar-se-á o sangramento e a inflamação da endometriose, e ir administrando os desconfortos.

A opção mais definitiva é fazer a retirado do útero e assim não ocorrerá mais o sangramento, quanto aos ovários recomenda-se a retirada se os sintomas da endometriose for relevante e durante a cirurgia, de preferência, por laparoscopia, for observado muitos implantes, porém, esta opção remeterá a impossibilidade de gravidez.

Havendo todas estas opções sugiro conversar com o médico que a acompanha para definir qual opção se adequaria aos seus anseios.

- Descobri que tenho endometriose e foi-me receitado o tratamento com anticoncepcional, o Elani 28, por seis meses para ver se tem resultado. Minha questão é se esse remédio realmente poderá ajudar, porque esperar seis meses e depois saber que a endometriose se alastrou não dá. Como a minha parece que está no começo, quero saber qual seria a melhor conduta? V. M

Doutor Hélio Sato: Sim. Pode ajudar no tratamento da endometriose assim como qualquer outro progestogênio e a espera de 3 a 6 meses é para verificar se fez efeito, ou seja, se há o controle da dor na menstruação, dor na relação sexual e outros sintomas. Porém, se a endometriose for profunda (infiltração superior a cinco mm nos órgãos ou tecidos) a eficácia do tratamento medicamentoso costumeiramente é mais baixa. Em relação aos parâmetros de melhora da endometriose, convém além da avaliação clínica. O acompanhamento de exames de imagem (ressonância magnética de pelve ou ultrassom com preparo) e o CA 125 podem auxiliar em alguns casos. Quanto a conduta, ela depende de diversas informações dentre elas a intensidade da dor, o futuro reprodutivo, etc..


Em relação às diferenças das composições das medicações, ou seja, somente progestogênios ou a associação de progestogênios com estrogênios, bem como a continuidade ou intermitência do regime medicamentoso, não existe uma comprovação conclusiva sobre qual é o melhor tratamento para o controle da endometriose. Portanto, a eficácia está na adesão do tratamento e acompanhamento médico adequado. 


Sobre o doutor Hélio Sato:


Ginecologista e obstetra, Hélio Sato é especializado e endometriose e em laparoscopia. Ele tem graduação em Medicina, Residência Médica, Preceptoria, Mestrado e Doutorado em Ginecologia pela Universidade Federal de São Paulo. É pesquisador principal de projeto regular da FAPESP.

Hélio Sato tem certificado em Laparoscopia pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e de Obstetrícia. É membro da AAGL “American Society of Gynecology Laparoscopy” e é membro associado da clinica GERA de reprodução humana. (Acesse o currículo Lattes do doutor Hélio Sato).