segunda-feira, 21 de julho de 2014

"A VIDA DE UM ENDO MARIDO": DÊ A VOCÊ MESMO A CHANCE DE SER FELIZ!!

Quem de nós nunca pensou em desistir de algo? Ou até mesmo da vida, numa dificuldade ou nos obstáculos que enfrentamos no dia-a-dia? Para uma endomulher, então, pensar em desistir é uma palavra que sempre povoa nossa mente, não é mesmo? Não é porque estou bem hoje, que falo que sempre foi assim. Não, não foi. Por muitas vezes, eu pensei em desistir de tudo. Quando estava em depressão profunda, pra baixo, pensei inúmeras vezes em desistir da minha própria vida. Depois, pensei em desistir até mesmo do blog, acredite se quiser. Mas, também acredite se quiser, todas as vezes que pensava nessa bobagem, aparecia alguma leitora e deixava um recado incrível sobre ele. Era Deus usando essas pessoas para me dizer: "Não desista filha, vá em frente, o caminho é longo, doloroso, mas a vitória é certa". Não é fácil fazer caridade, ser do bem é algo que atrai fúria de quem não tem a mesma energia ou a mesma vocação: ajudar ao próximo sem ver a quem, mesmo passando por dificuldades. 


Este texto do Alexandre é muito emocionante, ainda mais porque ele fala de um episódio de sua vida que, como ele mesmo diz: "nem todo mundo sabe disso". Todos os seres humanos têm problema. Não vá pensando que a vida é um mar de rosas... ah, não é. E eu digo que quanto mais problemas enfrentamos, mais estamos preparados para enfrentar a vida de cabeça e peito erguidos. Alexandre toca em seis pontos principais que temos de superar para enfrentar os desafios que a vida nos dá. No começo podemos até não entender, e sempre perguntamos: "por que comigo?" Mas, depois quando começamos a ver a luz no fim do túnel, começamos a agradecer a Deus todas as provações e os obstáculos pelos quais passamos. É um texto para ler, para refletir e para compartilhar entre seus amigos. Um beijo carinhoso!! Caroline Salazar 

Dê a você mesmo uma chance de ser feliz


Por Alexandre Vaz 

Você pode atravessar uma ou várias fases ruins na sua vida, tem hora que parece que desistir é a única saída possível para a solução dos seus problemas. Hoje eu vou compartilhar um pouco da minha vida, algo que não falo para muita gente. Não por vergonha ou orgulho, mas simplesmente porque, na maioria das vezes, não é relevante. O que eu vou descrever em seguida não tem nada a ver diretamente com endometriose, mas o leitor poderá encontrar paralelos na sua vida, pois todo mundo vive situações complicadas.

Começando quando eu tinha 19 anos. Tinha terminado meu serviço militar e estava pronto para enfrentar a vida civil novamente. Na época, eu tinha um sonho: fazer faculdade e me formar como engenheiro eletrônico. Consegui meu primeiro emprego sério. A proposta que me fizeram incluía 12 horas de trabalho todo dia, com dois sábados de 12 horas incluídos, tudo isso em turno. Eu pegava às 7 da manhã e largava às 19 horas, e na semana seguinte, trabalhava à noite. Botei na minha cabeça um objetivo: sabendo que em casa não tinha como pagarem meus estudos na faculdade, eu iria trabalhar por três anos nesse ritmo. Nesse tempo, eu economizaria o bastante para fazer a faculdade sem ter de trabalhar e sem problemas de dinheiro quando tivesse estudando. E por um ano e meio eu fiz isso. Inclusive, fui travado em um sábado de sol. Foi no dia 9 de Maio de 1998, quando eu voltava do trabalho, após cumprir a minha jornada. Eu perdi o controle da motocicleta e caí sobre ela. Parece uma eternidade aquele segundo em que tudo acontece. Não perdi os sentidos e isso me salvou, pois tomei consciência da minha situação. Meu braço esquerdo estava gravemente esfacelado, o pulso quebrado, fratura exposta no antebraço esquerdo, sangue espalhado pela estrada e ninguém por perto para me prestar socorro. Eu nem podia levantar, pois estava preso na motocicleta, a corrente tinha desfeito meus músculos extensores na parte dorsal do antebraço e eu estava me queimando no escapamento quente.

Quando minha ficha caiu implorei para que o tanque pegasse fogo e a motocicleta explodisse. Como eu iria viver assim? Quem seria eu daquele instante em diante? Limitado fisicamente, incapaz de fazer as coisas que eu fazia antes, jovem orgulhoso... meu orgulho deu uma travada. A vida iria me ensinar muita coisa, mas na hora eu não sabia disso.

Aquele pensamento não durou muito, deve ter sido uma fração de segundo. Foi substituído por um nojo imenso de mim mesmo por querer desistir. Eu não sei de onde veio, sei que foi o que me fez lutar pela vida. Eu gritei por socorro até que alguém escutou. Era uma senhora que estava em uma casa, talvez, uns 500 metros dali, que veio correndo com a filha pequena nos braços. Chocada, ela puxou a menina para que não me visse daquele jeito e correu para chamar a ambulância. Não demorou muito para que se juntasse uma multidão em volta de mim. A ambulância chegou, eu não sei indicar quanto tempo demorou porque nessas horas tudo parece uma eternidade. A única coisa que eu consegui fazer foi me acalmar. Eu sabia que estava com uma hemorragia ativa e perdendo muito sangue. Se eu permitisse que meu coração continuasse a bater acelerado minhas chances diminuiriam. Talvez essa consciência tenha salvado minha vida. Chegou a ambulância, mas não conseguiam me tirar da motocicleta. Precisaram chamar os bombeiros para cortar a corrente e uma parte do quadro, e me soltar de lá. Não me pergunte como foi que eu fiquei desse jeito com o braço dentro da moto, só sei que fiquei. Assim que me soltaram eu levantei com meus próprios pés, sem ajuda de ninguém, e fui para a maca. Pensando friamente não sei como consegui. Meu sangue devia estar quase todo na estrada. Até hoje me parece impossível ter feito isso.

Fui levado para o hospital local, onde não tinham as especialidades clínicas necessárias para me tratar, e daí, fui levado para Lisboa (capital de Portugal), para um hospital distrital. Minha vida tinha mudado radicalmente, e eu nem sabia se sairia vivo dessa. Na mesa de cirurgia olhei bem no olho do médico que ia me operar e perguntei o que ele achava. Ele me falou que, honestamente, não sabia, estava a maior bagunça. Eu apenas respondi para ele que fizesse o melhor que conseguisse. Passaram uma coisa preta por cima de mim que eu percebi ser uma máscara de anestesia, inspirei bem fundo e adormeci. Estava na hora de deixar os homens fazerem o trabalho deles. Todo o meu orgulho de jovem não valia mais nada. Eu que não permitia que ninguém tomasse conta dos meus assuntos, estava entregando a minha vida na mão de desconhecidos. Primeira grande lição: a humildade. Teve outras antes, mas eu só entendi mais tarde.

Acordei após seis horas de cirurgia com o braço enfaixado e cinco ferros saindo de lá que seguravam os ossos no lugar. Eu tinha avaliado bem a coisa, estava bem feia e ia demorar uma eternidade para me recuperar. Tive um choque inicial, mas depois eu fui aceitando que ia ser desse jeito, não tinha como reverter a situação. Segunda grande lição: a aceitação.

Geralmente, eu sou um paciente fácil, bem disposto e não dificulto o trabalho das enfermeiras. E me alimento muito bem. Na verdade, para mim comer é mais do que me alimentar, é um prazer imenso. Daí que as enfermeiras não acreditavam que eu estava tomando quatro sacos de soro por dia e comendo o normal. Eu tive um desgaste muito grande, mesmo me alimentando muito bem ainda perdi 18 quilos. Terceira grande lição: encarar o desafio. Se eu queria sair dessa, eu tinha que me fortalecer e facilitar o trabalho dos médicos, cumprindo com tudo que me fosse pedido e, por vezes, ir além disso.

No dia que eu voltaria para casa, fui sozinho fazer minha higiene pessoal, e mesmo com a mão esquerda ainda quebrada e sem movimento nos dedos, eu apertei meu tênis sem ajuda. Demorou um tempão para conseguir fazer isso, mas tempo era o que eu mais tinha de sobra naquela época.

Em casa, eu me lembro de querer me vestir para sair. Calça, camisa social... bom, camisa social tem um problema, você precisa abotoar bem os botões. Acredite ou não, eu demorei uns 20 minutos para apertar cada um. Quando será que alguém vai inventar uma camisa dessas com velcro ou zíper? A frustração foi tanta que eu dei um soco na parede e quase quebrei a outra mão. Aí a coisa ia ficar complicada até mesmo para fazer xixi né? Mas naquela hora a gente não pensa nessas coisas. Quarta grande lição: a perserverança. Mesmo com a mão doendo por conta de uma atitude impensada minha, eu continuei apertando os botões que faltavam. Tive uma segunda cirurgia, fui para a fisioterapia como me pediram, e aquilo parecia brincadeira de criança. Por isso, sempre que a terapeuta dava as costas, eu aumentava a intensidade da máquina e meu braço pulava feito louco com os choques, mas de alguma forma eu sabia que tinha que fazer mais. Não recomendo que façam isso. No meu caso, acabei tendo sorte, mas poderia facilmente ter complicado minha situação. Confiem nos médicos e respeitem a opinião profissional deles.

Nos raios-X de controle meu osso estava fraquinho, parecia de um velho de 90 anos. A ortopedista sempre falava para eu não fazer esforços, pois poderia quebrá-los. Só que a fisioterapia já tinha terminado, e ninguém me dava mais. Isso não podia ficar assim. O que o cabeça de bagre aqui fez? Foi para uma academia de musculação onde um primo meu treinava. Com a médica me avisando para não fazer esforço, eu fui para uma atividade esportiva bem leve e que não implicava esforço, né? Com uma diferença, quem me treinou fui eu mesmo. A médica já tinha me falado para o osso se recuperar tinha que passar sangue lá, pois é ele que leva tudo o que o osso precisa. Ora, descanso não faz o sangue fluir. Por isso decidi que iria fazer exercício, mas sempre prestando muita atenção ao que acontecia. A mínima dor no braço e eu não fazia mais nada nesse dia. Mas, no dia seguinte, estaria lá para continuar. Eu já tinha recuperado meu peso e até engordado bastante. Mas, nos três meses seguintes, eu voltei à minha velha forma. Sem barriga (que voltou igual onda do mar), levantando 36 quilos em cada mão, fechando 72 quilos com os braços e fazendo flexões de ponta cabeça. Na verdade, eu nunca tinha estado em melhor forma física. E os resultados vieram. Quando eu fiz o ultimo raio-X de controle, a médica não estava acreditando no que estava vendo no meu exame. Meu osso estava normal e saudável. Com o peso de seu corpo, ela tentou mover minha mão e não conseguiu. O ar de felicidade dela competia com sua incredulidade. Quarta grande lição: preste atenção aos sinais do seu corpo. Respeite-o, é o único que você tem, e mesmo com defeito, provavelmente, não será na sua vida que a medicina avançará a ponto de lhe dar outro.

Muita coisa aconteceu depois. Eu demorei dois anos para me recuperar fisicamente, e quatro no total para recuperação psicológica. Na época eu não tinha namorada, e depois do acidente, não é fácil você acreditar que vai rolar. Mas nesse momento, a cabeça nem pensa nessas coisas. Venci tudo sozinho. Por vezes, com o apoio de alguns amigos, mas hoje eu sei que deveria ter buscado apoio psicológico profissional. Eu superei os traumas, mas, mais uma vez, considero-me um sortudo. Só que, talvez, também poderei ter demorado mais que o necessário. Coloquei meus problemas em uma gaveta imaginária e, de vez em quando, eu ia lá ver se conseguia resolver alguns. Se não desse eu botava de novo na gaveta e seguia vivendo.

Posso falar que nem sempre fui muito positivo. Mas alegria é algo que sempre fez parte de mim, eu adoro zoar com tudo. A Caroline pode confirmar isso para vocês. Eu acho que isso me ajudou bastante a não desistir, a ter esperança, e a dar o meu melhor sem pensar no que eu conseguia fazer antes, que era muito mais do que eu consigo agora. Quinta grande lição: aceite o desafio e se entregue 300%. Não existe tentar, ou você faz ou não faz. Muitas pessoas perguntam como fazer? Começa pelo começo, claro, e faz um pouco a cada dia. Cada pedacinho que você faz, procure que seja tão perfeito quanto possível, e tente hoje ser melhor do que foi ontem.

Eu não sabia o que iria me acontecer. Parecia que muitas coisas davam errado na minha vida. Uma delas era a sensação de que eu não iria mais achar uma mulher para mim, que olhasse para o homem e não para um braço esfacelado e cheio de cicatrizes. Porque dá para imaginar, o povo nessas horas só fala besteira. Eu senti que perdi minha identidade como pessoa. As pessoas quase não olhavam mais na minha cara, e todo o assunto era sobre o meu braço. Se o braço estava melhor... cadê perguntarem se EU estava melhor? Enchi o saco de tanta pergunta besta, de explicar sempre a mesma coisa para cada pessoa. Tinha mais pessoas me rodeando do que o habitual, mas ainda assim eu nunca tinha me sentido tão só.

Um dia eu encontrei uma moça. Ela precisava dar um jeito na vida dela também. A gente se conheceu, fomos criando uma amizade, e a coisa parecia estar dando certo. Só que tem um detalhe; ela tem endometriose. Tentou me explicar, não escondeu nada sobre a doença e, na realidade, na época, ela nem queria escutar a palavra namoro. Bonita, educada, ela tinha conquistado meu coração. Mas, estando tão na defensiva, quem ficou no mato sem cachorro fui eu. A suavidade e a paciência deram seus frutos. Lembro-me de falar para ela que se eu sentia algo mais, não era culpa dela e eu que tinha que lidar com isso. E que não gostaria de ver a nossa amizade destruída por uma besteira dessas. Olha que não foi fácil convencer essa menina, ela é osso duro de roer. Mas eu sempre fui honesto com ela, e acho que mereci uma chance.

Acabei me casando com essa moça. Ela me libertou de muitos medos, me ajudou a superar bastante esses meus obstáculos, e me apoia de um jeito que só o amor consegue. Já se passaram quase oito anos desde que a gente se conheceu, mas parece uma vida toda, de tão preenchida que tem sido. Me sinto abençoado, casei com a minha melhor amiga. A gente briga, como é normal com todo o casal, mas eu nunca pensei que fosse tão fácil amar. Tudo o que eu passei antes me preparou para enfrentar a vida que tenho hoje. Dói muito ver ela sofrer. Se eu pudesse tirar todo esse sofrimento dela, seria na hora. Mas não é minha essa decisão, nem possuo essa capacidade. Então, faço o que posso, amando e apoiando-a. Não poderemos ter filhos, pois ela teve uma histerectomia radical (nota da editora: retirada de todos seus órgãos reprodutores), mas não será por isso que seremos infelizes. Eu e ela somos nossa família. Eu continuo amando-a, a cada dia mais e mais.

Mesmo com tudo o que a gente passa, minha esposa é meu cantinho do paraíso. Agora volte no começo de minha na história, e veja tudo o que eu teria perdido se eu tivesse morrido naquele acidente. Nada indicaria que alguma coisa de bom poderia acontecer depois daquele acidente. Mas eu dei uma chance a mim mesmo. Aceitei o desafio, mesmo sem saber como jogar esse jogo. O tempo passou e curou. E o novo dia me revelou uma flor que todos os dias me faz sorrir. Você é capaz de dar uma chance para você mesmo, para a vida, para a sua felicidade?

Um comentário:

  1. Nossa muito profundo esse testemunho! Parabéns por ter sido perseverante e lutado pelo que acha certo.

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