segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

DAVID REDWINE: UMA REVISÃO CRÍTICA SOBRE A TEORIA DE SAMPSON - ORIGEM DA ENDOMETRIOSE - PARTE 1!


Eu e o médico e cientista americano David Redwine em sua visita ao Brasil, em 2014
Iremos iniciar uma série de três textos do médico e cientista americano doutor David Redwine a qual ele faz uma revisão bem crítica sobre a teoria de Sampson. Apesar de ser a teoria mais aceita para a origem da endometriose, segundo o próprio doutor Redwine não há provas científicas de que Sampson estaria correto ao afirmar que a doença vem da menstruação retrógrada. Começaremos pela introdução. Estaria Sampson enganado? Leia com muita atenção essa análise do doutor Redwine. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Por doutor David Redwine
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar


Uma revisão crítica sobre o desenvolvimento da teoria de Sampson a respeito da origem da endometriose - parte 1

Introdução:

É importante que se saiba o mais precisamente possível a origem de qualquer doença, para que se possa desenvolver um tratamento efetivo e racional. A origem da endometriose continua a ser discutida sob um pano de fundo confuso. Isso sugere que alguns conceitos fundamentais sobre a doença podem estar errados. Por exemplo, duas décadas atrás estabeleceu-se que muitas das manifestações visuais da endometriose foram sub-diagnosticadas por um longo período, o que deveria ter levado à uma reavaliação dos conceitos ou que esses tivessem sido abandonados, incluindo aqueles sobre sua origem. Ao invés disso, essa nova informação foi incorporada ao entendimento vigente, o que apenas ampliou a confusão sobre a doença.

Poderia Sampson estar enganado? Uma análise crítica sobre o desenvolvimento dessa teoria pode iluminar os erros que persistem até os dias de hoje, permitindo-nos descartar o que está errado para que possamos enxergar o que é correto.

Algumas etapas devem ser seguidas durante a elaboração de uma teoria, desde a primeira descrição até um entendimento robusto e profundo da origem, e o tratamento efetivo (tabela 1).

Tabela 1. Etapas para o desenvolvimento de uma teoria de origem de doença:

1.      Observações clínicas precisas
2.     Confirmação e expansão das observações
3.      Desenvolvimento de uma teoria de origem
4.     Comparação da teoria com fatos novos e antigos
5.      Ajuste ou descarte da teoria para acomodar todos os fatos e observações
6.     Emergência da correta patogênese

De acordo com a era científica, há variações na eficácia pela qual esses repetitivos passos de introspecção e observação são feitos: observações iniciais em uma era de não sofisticação tecnológica podem resultar em uma disseminação mais lenta e menos eficiente do conhecimento, comparando-se a observações iniciais feitas em uma era de moderna tecnologia, que conta com a vantagem da rápida comunicação de ideias. Entretanto, a moderna transmissão eletrônica de conceitos errôneos pode causar prejuízos mais rapidamente. É importante que haja uma confirmação rápida e robusta de observações primárias, pois relatos incidentais de pequenas séries de casos podem não representar todo o espectro de uma doença.

O grau de desenvolvimento de informações válidas sobre uma doença também é importante na definição de uma teoria de origem. Lacunas intelectuais causadas pelo lento desenvolvimento do conhecimento serão preenchidas por mitos, informações sem sentido, ou pela “sabedoria popular”, um consenso no qual os médicos e cientistas agem reciprocamente sob seus conceitos ao invés de agirem baseados em ciência. Quase-verdades ou erros imediatos, caso repetidos o suficiente pela multidão, parecerão mascarar-se como fatos científicos, mesmo que a base científica nunca possa ter sido esclarecida. Haverá atrasos na identificação de uma correta teoria, e a consequente ignorância causará uma confusão frustrante, especialmente entre os pacientes. Mais importante, uma teoria equivocada sobre a origem de uma doença resultará inevitavelmente em tratamentos errôneos, que podem desperdiçar recursos e causar danos aos pacientes.

Eliminar a confusão científica sobre a origem da endometriose não requer necessariamente um laboratório, mas pode ser combatida examinando-se o quão corretamente os passos da tabela 1 foram seguidos. Se os passos não foram rigorosamente seguidos, haverá erros de pensamento, e a confusão persistirá. A história da endometriose está contaminada por infelizes exemplos de não seguimento dos passos necessários ao correto desenvolvimento de uma teoria de origem, o que explica perfeitamente a confusão presente nos dias de hoje. Parte dessa história será discutida pela avaliação dos trabalhos iniciais do Dr. Sampson.

... a história da endometriose está contaminada por infelizes exemplos de não seguimento dos passos necessários ao correto desenvolvimento de uma teoria de origem, o que explica perfeitamente a confusão presente nos dias de hoje.



Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

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