terça-feira, 25 de abril de 2017

7 ANOS DE BLOG!! DAVID REDWINE: QUAIS SÃO OS SINTOMAS CLÁSSICOS DA ENDOMETRIOSE?


imagem cedida por Free Digital Photos

Há muitas dúvidas em relação aos sintomas da endometriose, em especial, no que difere as dores da endometriose pélvica da intestinal. Em mais um texto brilhante, o médico e cientista americano David Redwine faz um resumão bem bacana dos sintomas da doença e explica como diferenciá-los dos sintomas de outras doenças pélvicas, como por exemplo, os miomas. Porém,  há sintomas clássicos específicos da endometriose, e saber quais são é muito importante para o correto diagnóstico e tratamento da doença. O doutor Redwine aborda também os sintomas atípicos da doença. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Por doutor David Redwine 
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Caroline Salazar



Quais são os sintomas clássicos da endometriose?

Os sintomas da endometriose:

Endometriose é o achado mais comum em mulheres de idade reprodutiva que tenham dor. Certamente é a causa mais comum de dor, e merece toda a conotação negativa que recebe. A dor da endometriose é normalmente localizada pela paciente na região pélvica de acometimento pela doença. Algumas pacientes podem descrever exatamente onde está a doença pela sua característica e localização. Como o fundo de saco (nota do tradutor: região pélvica entre o útero e o intestino), os ligamentos útero-sacros e os ligamentos largos posteriores são as regiões pélvicas mais comumente envolvidas, muitas pacientes têm dor relacionadas à irritação causada pela doença durante a realização de atividades cotidianas comuns. Dessa forma, a endometriose no fundo de saco e nos ligamentos útero-sacros pode ser irritada pela penetração profunda durante a relação sexual, enquanto uma dor mais superficial causada pela relação sexual geralmente não é causada pela doença.

Essas regiões pélvicas inferiores podem também ser irritadas pela passagem das fezes durante a evacuação, portanto pode haver cólicas intestinais dolorosas quando essas regiões estiverem afetadas, apesar dessa dor estar relacionada primariamente ao fluxo menstrual. Quando a parede retal estiver acometida pela endometriose, a paciente pode se queixar de dor a cada evacuação, independente da menstruação.

Nós encontramos que a dor presente aos movimentos intestinais – não a constipação ou a diarreia – independente da menstruação e é o principal sintoma da endometriose intestinal. A bexiga, entretanto, pode estar acometida por extensa endometriose, e ainda a paciente raramente irá ter sintomas urinários.

Eu e o doutor David Redwine quando o conheci, 
em sua passagem pelo Brasil em 2014
Tumores fibroides (miomas):

Fibroides (ou miomas) são nódulos de músculo liso que surgem na parede muscular uterina. Eles crescem de maneira concêntrica, como uma pérola crescendo dentro de uma ostra. Um mioma volumoso terá o terá o tamanho de uma tangerina ou mais. Um pequeno mioma será menor que uma pérola. Eles podem causar cólicas uterinas entre os ciclos menstruais e sangramento severo durante a menstruação, a não ser que estejam na superfície externa do útero, quando, então, poderão ser assintomáticos.

A dor da endometriose costuma ser descrita como em pontada, queimação, ou como uma facada. Ela pode ocorrer durante todo o mês, apesar de exacerbada durante a menstruação. Os conceitos de que a endometriose causa dor principalmente durante a menstruação e que a cólica uterina é o seu principal sintoma estão errados.

Os principais sintomas da endometriose pélvica (não intestinal) incluem uma dor pélvica aguda, em pontada, lancinante, como queimação ou facada, que ocorre fora do ciclo menstrual, mas que pode ser agravada pelo mesmo, dor no fundo da vagina com a penetração profunda durante a relação sexual e cólicas intestinais dolorosas durante a menstruação.

Sintomas atípicos de endometriose:

O sangramento menstrual intenso não é um sintoma típico da endometriose, e possivelmente não mudará com a cirurgia conservadora para tratar a doença. Outros sintomas que não necessariamente sugerem endometriose são dor no clitóris, dor na perna e na virilha, náusea, cansaço, constipação, diarreia e desconforto na bexiga.

Quando as aderências causam dor, elas doem no mesmo lugar onde ocorrem. As pacientes algumas vezes usam termos como “puxando” ou “esticando” para descreverem as dores das aderências. Não se espera que as dores de aderências variem conforme o período do ciclo menstrual, a não ser que aderências que envolvam os ovários que sejam tracionadas pelo simples crescimento de um cisto. Muitas pacientes com endometriose também têm aderências, e geralmente não é possível determinar se a dor é causada por aderências ou por endometriose.

Uma palavra sobre cólicas:

Se a dismenorreia (cólica uterina) for o principal sintoma, então a cirurgia conservadora para endometriose por si só pode não melhorar o sintoma, já que este é o sintoma com menor probabilidade de responder à cirurgia conservadora para endometriose. Se a cólica for proveniente do próprio útero, remover a endometriose de regiões fora do útero não ajudará nessa situação.

Outros dois tratamentos podem ajudar a tratar a cólica menstrual: a secção dos ligamentos útero-sacros e a neurectomia pré-sacral. Esses procedimentos evitam que os nervos transmitam a sensação de cólica, e ambos podem ser realizados por laparoscopia.

Nota do tradutor: Neste texto, o doutor David Redwine sintetiza os principais sintomas causados pela endometriose, e como distingui-los dos sintomas causados por outras doenças ginecológicas, como os miomas uterinos.

Apesar de poder haver uma sobreposição de sintomas entre as diversas doenças, há certos sintomas que sugerem fortemente a presença de endometriose, como sintomas intestinais, dores na penetração profunda durante a relação sexual e, sim, cólicas menstruais intensas. Identificar corretamente se os sintomas são causados por endometriose implica em maiores chances de sucesso no tratamento.


Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

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